Não foi apenas o pôr do sol que chamou a atenção no fim da tarde desta segunda, 16 de fevereiro, em Salvador. O afoxé Filhos de Gandhy pintou de branco a orla do circuito Barra-Ondina, além de espalharar o cheiro de alfazema pela avenida.
Formado apenas por homens com seus turbantes e colares de conta, o bloco arrastou uma multidão às ruas. Veja em detalhes:
Fotos: Francisco Cepeda/AgNews
A HISTÓRIA
No dia 18 de fevereiro de 1949 os estivadores do porto de Salvador, estavam sentados ao pé de uma mangueira perto da sede da entidade (Sindicato dos Estivadores), preocupados com a falta de trabalho nos portos e a política de arrocho salarial, gerada pela crise do pós-guerra. Inconformados com a impossibilidade de o bloco carnavalesco “Comendo Coentro” desfilar, Durval Marques da Silva, conhecido como “Vavá Madeira”, sugeriu a idéia de colocar um bloco na rua.
A sugestão foi logo aceita entre os vários colegas da estiva como Hermes Agostinho dos Santos, o Soldado, Manoel José dos Santos, Guarda-Sol, Almir Passos Fialho, o Mica, e muitos outros que participaram da fundação do bloco Filhos de Gandhy. No primeiro dia, saíram apenas 36 participantes apesar de ter mais de 100 inscritos. Ninguém podia imaginar o que a polícia iria fazer, pois o sindicato estava sob intervenção governamental. Para evitar represálias, o fundador Almir Fia lho deu a idéia para mudar a grafia do nome Gandi, inserindo as letras “dh” e trocou o “i” por “y”, ficando Gandhy.
A história é mais bem contada por aqueles que a viveram. A jornalista Carolina Campos, da Revista Exclusiva, afirma que o próprio Vavá Madeira, considerado o mais animado da turma, surgeriu o nome Filhos de Gandhy. Vavá explicou aos colegas a importância do líder hindu, Mahatma Gandhi, que havia sido assassinado em janeiro de 1948, um ano antes, com grande repercussão. Assim nascia o “Filhos de Gandhy” e em 1949 já desfilava pela primeira vez, como cordão. Desde a época de sua fundação até os dias atuais, o Afoxé, pioneiro da paz e com estilo próprio não parou de crescer. A idéia de expansão não agradou a todos porque apesar de ter sido fundado por estivadores, a partir de 1951, o bloco passou a admitir trabalhadores de outras classes. E, hoje, praticamente eles formam a minoria.