Fã de Homem de Ferro, jovem constrói parte do braço usando peças de Lego.
Entre uma brincadeira e outra, David Aguilar, que não tem parte do antebraço direito devido a síndrome de Poland, construiu a própria prótese.
06/09/2019
A habilidade de David Aguilar com peças de Lego o acompanha desde criança. A famosa brincadeira com bloquinhos de montar permitiu que o jovem pudesse construir casinhas, carros, aviões. Mas não só isso. A imaginação dele foi além.
Entre uma brincadeira e outra, Aguilar, que não tem parte do antebraço direito devido a síndrome de Poland, construiu a própria prótese ao combinar os blocos de plástico, peças de um robô e fita adesiva. Tudo isso aos nove anos e dentro da própria casa em Andorra, um pequeno país localizado entre a Espanha e a França.
Hoje, com 19 anos, o jovem já está na quarta versão de seu braço biônico. Em entrevista a Tilt, ele contou um pouco de sua história e como acredita que a tecnologia pode mudar a realidade das pessoas.
Aguilar esteve no Brasil durante o Let's Go Festival, evento de inovação e tecnologia na educação realizado em Curitiba.
Habilidade inquestionável
O brinquedo favorito de Aguilar sempre foi o Lego. Mas a ideia de construir um braço usando as pecinhas coloridas nunca havia passado muito pela sua cabeça. Até que um dia a brincadeira virou algo mais sério e a prótese foi ganhando forma.
"Os materiais que usei foram os blocos de Lego mais comuns. Combinei com algumas peças de robôs biônicos [dispositivos que se conectam fisicamente às pessoas], um fio que articulava com o meu tronco e um fita de chaveiro que ficava em meu pescoço para que [a prótese] não caísse. Coloquei também fita adesiva para que os blocos não desmontassem", detalhou.
"Suponho que em meu subconsciente sempre tenha habitado o desejo de me ver como os demais. Em alguns momentos muito difíceis da minha vida, esse desejo era mais importante do que em outros", contou.
O braço feito de Lego o ajudou bastante a recuperar a confiança. Aos nove anos, a animação foi tanta que ele chegou até a ir para a escola com a nova prótese.
Os professores e colegas ficaram perplexos. A escola chegou a ligar para os pais de Aguilar com receio de que o estudante estivesse de alguma forma pedindo ajuda em silêncio.
Ao passar pela psicóloga, a resposta foi exatamente o contrário. "Ela não via nenhum problema. Eu tinha era uma grande inventividade e grandes habilidades construtivas, imaginativas. Ela previa um bom futuro para mim."
Aguilar foi crescendo, melhorando (ainda mais) suas habilidades com os blocos de montar. Aos 17 anos, construiu uma versão bem mais avançada de prótese. Ele desmontou um helicóptero feito de Lego e remanejou as pecinhas para que elas se tornassem a extensão de seu braço.
"Montei após um mau momento. Ao chegar da escola, me tranquei no meu quarto. Em cinco dias e dedicando duas horas todos os dias, desenvolvi minha primeira prótese com Lego Technic", explicou sem detalhar o motivo.
Fã do Homem de Ferro, a prótese foi nomeada de MK-1, em homenagem à armadura do super-herói. Sua característica é que ela consegue simular o movimento de pinçar com a mão. O movimento é acionado por cabos (construídos a partir de fones de ouvido reciclados) que seguem desde as pinças até o cotovelo.
Com apoio do amigo da família Jordi Cachafeiro, ele conseguiu avançar em seu projeto e construiu mais três versões:
MK-2: criada a partir de um avião de Lego que possuía um pequeno motor. Com ajuda dele, a prótese permitiu que Aguilar pudesse levantar e abaixar o braço. Um cadarço, uma linha de pesca e uma corda de guitarra ajudam a dar o movimento.
MK-3: criada a partir de um guindaste feito com os blocos de montar. Com ela, o jovem conseguiu cobrir uma parte do braço que permitia que a mão e o cotovelo ficassem conectados. Assim, os membros podiam ser acionados ao mesmo tempo.
MK-4: criada a partir de outro modelo de guindaste. É mais anatomicamente parecida a mão humana, segundo o jovem. Os dedos conseguem se abrir e fechar.
As próteses me permitem abrir portas, beber de uma garrafa, fazer flexões, abraçar, apertar as mãos. Cada uma tem suas próprias limitações e propriedades e, embora eu não as use todos os dias, o importante é transmitir às novas gerações que os sonhos podem ser realizados, diz David.
O futuro
As invenções do jovem não vão parar por aí. Inspirado em seus aprendizados, decidiu cursar bioengenharia na Universidade Internacional da Catalunha, em Barcelona. Seu maior objetivo é ajudar pessoas com suas limitações físicas. "Entendo a situação delas. Ao viver esta condição em minha própria pele, compreendo perfeitamente suas necessidades", afirmou.
"Agradeço a Deus que não tive nenhum problema em me adaptar à minha situação e não considero que tenha limitações. Dirijo, escalo, nado, pratico esportes. Mas é verdade que o mundo está ganhando mais consciência social e está cada vez mais preocupado em ajudar uma minoria que precisa dele. Espero que no Brasil as pessoas com deficiência sejam felizes e tornem suas vidas mais fáceis e confortáveis. É assim que deve ser", concluiu.
Fonte: Tilt Uol