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Teleton

Diretor do Teleton revela curiosidades sobre os bastidores do programa

06/11/2014

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Michael Ukstin fala do processo de criação de cada edição e também revela como é dirigir as 27 horas em que o programa fica no ar

 

Por Adolfo Nomelini

O Teleton é um evento grandioso: são 27 horas ininterruptas no ar com mais de 180 artistas se revezando no palco. Para dirigir um programa como este, é necessário começar a trabalhar muito antes do grande dia chegar. O site do Teleton conversou com Michael Ukstin, diretor do programa há sete anos, sobre o processo de criação e tudo o que acontece nos bastidores da atração antes, durante e depois de entrar no ar.

Quando você começa a planejar o Teleton?
O Teleton é como Carnaval, acaba um e começa o outro. Normalmente quando está acontecendo nós já temos a data definida do próximo. Então, a minha lição de casa quando termina o Teleton é anotar várias ideias, aquilo que não funcionou e que funcionou porque ainda está fresco na cabeça. Aí no começo do ano, lá para janeiro, inicio o projeto do próximo Teleton.

Quando o programa começa a ter uma equipe de produção?
Este ano, a equipe começou a trabalhar em abril. Primeiro um grupo pequenininho mais de planejamento e criação. Aí temos um cronograma e a equipe vai aumentando até chegar perto de 40 pessoas, que é o que a gente tem agora.

Como é o processo de criação?
Começam as conversas com a AACD para definir o objetivo (para onde este dinheiro vai), a meta (valor arrecado) e o tema, que este ano é união. A partir disso a gente começa o trabalho de criação do programa. Começamos a colocar as ideias no papel, muitas surgem ao longo dos meses, algumas são viáveis e outras não. A gente começa a conversar com os artistas muito cedo. O Teleton acontece numa sexta e num sábado, que são dias em que todos os artistas estão fazendo shows. Então, precisamos que eles bloqueiem as agendas. Já avisamos os artistas do SBT também para que todo mundo possa participar. Isso tudo no começo do ano. E, mesmo assim, muita coisa acontece no final. O Teleton é um grande quebra-cabeça. Temos 27 horas de programas, diversos artistas, apresentadores e histórias, e vamos montando isso para fazer o programa.


Foto: Divulgação/SBT

E o roteiro?
A gente tem duas coisas. Uma é o espelho, que é o roteiro resumido e diz apenas o que vai acontecer, ele é um pequeno livrinho. Já o roteiro é um livro grande com todos os textos do programa. Lógico que muita coisa é espontânea, os artistas contam suas emoções e sentimentos em relação ao Teleton, mas a gente também tem que dar para eles as informações sobre os telefones, a doação, as histórias. Isso gera um roteiro que é um livro. Este roteiro fica pronto mesmo na sexta-feira à tarde. Por mais que tenha esse planejamento todo, muita coisa se define nos últimos dias. Por exemplo, na última semana chega uma nova empresa apoiadora que vai fazer uma doação grande. Então, muda-se muita coisa por conta disso. Às vezes um artista está confirmado e tem que desmarcar. Alguns anos atrás, o Carlos Alberto de Nóbrega passou mal na sexta e nós tivemos que refazer o roteiro na madrugada e mexer para não ficar um buraco no programa.

No dia do programa, você fica quanto tempo no SBT?
Enquanto o programa está no ar, estou aqui. O programa começa por volta das 22h30 na sexta e vai ao vivo até 3h da manhã e depois entra com o material gravado (durante a madrugada), que já está pré-produzido com os melhores momentos do ano anterior. Nesse momento, eu consigo ir para casa. Eu não digo nem que eu durma, mas eu estico as costas um pouco e volto. Mas enquanto o programa está no ar, eu estou no SBT. Não fico o tempo todo no switcher, que é a sala de comando, porque com a função de diretor-geral você tem muita coisa para resolver. Por isso mesmo que temos essa equipe grande. Além da equipe de 40 pessoas que trabalha esse tempo todo, a gente tem no dia do Teleton uma centena de voluntários. A gente monta equipes que ficam no switcher e que também vão se revezando. Todo mundo quer participar do Teleton o tempo todo, só que é importante que todo mundo esteja bem. Eu não posso ter uma pessoa cansada cuidando do que está indo para o ar. A equipe vai se revezando para que todo mundo esteja com uma quantidade de horas que seja adequada para que ninguém cometa erros.

Na sexta-feira vocês chegam cedo?
A equipe chega às 8h da manhã. Ainda tem muita coisa para organizar até o programa entrar no ar.

Este é seu sétimo ano no Teleton, o que mudou para você como diretor do primeiro ano para este?
Mudou muito. Eu olho para os anteriores e meu objetivo é sempre fazer um Teleton melhor. Dirigir o programa é uma coisa muito específica porque é um programa anual. A gente está acostumado no dia a dia da televisão a fazer um programa semanal ou diário. Se algo não ficou muito bom nesta semana, você corrige na semana que vem. No caso do Teleton tem que ter muito planejamento porque não dá para errar. Se você erra, você prejudica toda a arrecadação, que é o objetivo principal. Então, tem que ser tudo muito pensado e todas as mudanças têm que ser feitas pouco a pouco. Eu tenho muito orgulho de a cada ano colocar um programa melhor do que o anterior. Só que para isso é mais esforço e trabalho. E eu quero gastar cada vez menos porque cada real que a gente economiza é mais dinheiro para o Teleton. Não adianta eu querer fazer um programa maravilhoso gastando muito. Por isso, a gente conta com a ajuda de muitos parceiros. O SBT é o maior parceiro, mas tem muita gente envolvida participando, doando serviço e equipamentos para que possamos realizar o projeto com menor custo.

 

Foto: Divulgação/SBT

 

E como pessoa? O que mudou nestes sete anos?
Eu aprendi a dar mais valor a vida com certeza, aprendi muito com as crianças da AACD. A vontade, determinação e garra que eles têm de superar suas dificuldades. Às vezes a gente se pega chateado por conta de um problema de trabalho ou a conta do banco está estourada e que no momento parece um problema gigante pra gente e nós vemos que estas crianças com problemas realmente sérios estão lá enfrentando estes problemas e dando uma lição pra gente. Costumo parar para pensar, respirar, “vamos lá, vai dar certo”. Em 2008, quando vim fazer meu primeiro Teleton, era assim: “Vou fazer o Teleton, o projeto é bacana”. Mas achei que fosse fazer só um Teleton, mas já é o sétimo porque você não quer mais sair do projeto. A partir do momento que você realmente conhece e vivencia, você quer participar o tempo todo. Conheço a AACD por dentro, as pessoas e os profissionais. Vejo a qualidade do trabalho que é feito lá. E conheci muitas histórias, crianças que estavam com 2 anos de idade, hoje estão com 9 anos e você vê a evolução desta criança. O carinho que eles têm com a gente, a disposição para ajudar. Eu sinto um orgulho tão grande quando vai chegando o Teleton e a gente vê a movimentação dos profissionais do SBT por causa do projeto. É algo impressionante porque todo mundo quer participar, ajudar. Não é querer aparecer, é questão de ajudar mesmo. O que eu mais escuto é: “O que eu posso fazer para ajudar o Teleton?”. Todo mundo veste a camisa do Teleton e é por isso que dá certo. É a união de todo mundo. Impossível fazer o Teleton com pouca gente

Você lembra de algum apuro ao vivo?
Qualquer programa ao vivo é um desafio. Esta responsabilidade é muito grande. No Teleton com esta estrutura toda, centenas de artistas, milhares de pessoas se revezando na plateia... Acontece de tudo. Uma criança que precisa ir ao banheiro no meio do programa, às vezes o atraso do voo de um artista que está vindo de outra cidade e não chega...

Você também teve uma experiência pessoal com a AACD, não é?
Em 2008, no meu primeiro Teleton, eu tive a oportunidade de ir em um congresso de Teleton no México para trocar informações e conhecimento. Lá, eu conheci o Don Francisco, que é o Silvio Santos dos países de língua espanhola. Ele é o responsável pelo Teleton do Chile. Tive a oportunidade de assistir a uma palestra dele. No final, ele me disse que eu ia descobrir que o Teleton faria muito mais parte da minha vida do que eu imaginava. Ele disse que todo mundo que em algum momento da vida venha a trabalhar no Teleton tem algum motivo. Eu fiquei com isso na cabeça por muito tempo. Depois, conhecendo as crianças e as histórias, fui vendo que eu realmente tinha muito a ver com a AACD. Eu tinha motivo para estar no Teleton. Eu tenho três filhos. O meu filho mais velho, quando tinha 1 ano e meio, estava comigo quando eu capotei o carro. Não aconteceu absolutamente nada com ele porque ele estava usando a cadeirinha. Graças à informação que eu recebi e nada aconteceu. Então, o Teleton leva informação e ensina as pessoas sobre segurança. A minha segunda filha nasceu com duas voltas do cordão umbilical no pescoço e que se não é diagnosticado no pré-natal, ela poderia ter tido uma paralisia cerebral. Então, o fato de ter feito um pré-natal, de ter sido atendido por médicos que tinham informação preveniu que nada acontecesse com ela. E a minha terceira filha, que tem 1 ano e meio agora, nasceu com uma má formação no quadril. Isso foi identificado logo no primeiro dia de vida dela e me aconselharam a procurar um ortopedista para fazer um acompanhamento.  Eu não tive dúvidas. Fui direto à AACD, marquei a consulta e ela usou por quase oito meses um aparelho ortopédico e conseguiu resolver este problema que ela tinha. A AACD e o Teleton fazem mais parte da minha vida do que eu poderia imaginar lá atrás. Eu vejo aqui no SBT a quantidade de colegas nossos que estão envolvidos com a AACD. Ou que já foram pacientes ou têm filhos que são. É muito mais próximo do que a gente imagina. Você coloca o assunto da deficiência em discussão e você está ajudando de outra forma. É importante que as famílias assistindo ao Teleton possam discutir o assunto com seus filhos, explicar que a discriminação é errada, incentivar a inclusão nas escolas e empresas. Essa discussão é tão importante quanto a arrecadação que a gente faz. Quantas cabeças a gente não conseguiu mudar nesses 17 anos de pessoas que imaginavam que uma pessoa com deficiência não poderiam fazer nada e viram que elas podem, dentro da limitação delas, muita coisa? Somos todos iguais nas nossas diferenças.

 


Michael durante gravação do Esse Artista Sou Eu (Foto: Divulgação/SBT)

 

Além do Teleton, você tem o Esse Artista Sou Eu, o Máquina da Fama... Como você faz para conciliar?
Tive gravação nesta semana (antes do Teleton) e terei na segunda-feira após o Teleton. Na verdade, é a divisão do trabalho com a equipe. Eu sou um diretor que centraliza pouco. Eu confio muito na equipe que trabalha comigo, distribuo as tarefas, cada um tem a sua responsabilidade. É por isso que consigo fazer vários projetos ao mesmo tempo. Se eu fico fazendo um projeto só, começa a me dar coceira porque eu quero fazer mais coisa.

 

+ Vídeo exclusivo mostra o que vai rolar no Teleton deste ano

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