Post confunde ao destacar posição do Brasil em ranking de crescimento econômico
Uma imagem viralizada nas redes sociais mistura informações verdadeiras e falsas para exaltar a situação da economia brasileira
13/11/2019
Uma publicação compartilhada no Facebook mistura dados falsos e verdadeiros sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para exaltar o governo de Jair Bolsonaro.
Por um lado, é verdade que, em um ranking elaborado pela agência de classificação de risco Austin Rating, o crescimento da economia do país no segundo trimestre deste ano foi o terceiro maior entre um grupo de 40 nações — atrás apenas de Indonésia e Estados Unidos. É falso, por outro lado, que o aumento do PIB seja o maior desde 2013.
Além disso, o post não cita a Austin Rating como fonte. O ranking da consultoria depende do índice de comparação. Enquanto o Brasil é terceiro colocado quando o PIB é medido em relação ao trimestre anterior, na comparação em relação ao segundo trimestre do ano passado o país cai para as últimas posições.
Esta investigação do Comprova checou a publicação de uma usuária no Facebook que compartilha uma imagem com o logotipo do “Movimento Avança Brasil”.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Como verificamos
Buscamos as palavras “PIB”, “crescimento”, “Indonésia” e “Estados Unidos” no Google e encontramos uma reportagem do jornal O Globo que menciona o ranking da Austin Rating. A partir daí, entramos em contato com o economista-chefe da empresa, Alex Agostini.
Também consultamos dados do Sistema Nacional de Contas Trimestrais (SNCT), do IBGE e do World Economic Outlook, do Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Comprova entrou em contato com a autora do post no Facebook e com a página “Movimento Avança Brasil”, mas não obteve resposta. A busca no site Avança Brasil não traz nenhum conteúdo com as palavras mencionadas, mas a mesma publicação foi publicado na página de Facebook do grupo em 24 de outubro. O site do Avança Brasil identifica entre seus integrantes Olavo de Carvalho, ideólogo do círculo presidencial, e o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança, eleito pelo PSL-SP.
O que diz o ranking da Austin Rating?
O ranking da Austin Rating classifica os PIBs de todos os países que divulgaram resultados e exclui apenas alguns muito pequenos, especialmente africanos, onde os dados são inconsistentes. Na realidade, a consultoria criou dois rankings diferentes, um com o índice trimestre a trimestre e outro com índice anual. O primeiro tinha 40 países e o segundo, 42.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2019 em relação aos três meses anteriores. É este o dado utilizado no post que viralizou. Nesta base de comparação, o Brasil de fato fica em terceiro, atrás da Indonésia e dos EUA.
Ocorre que o ranking da Austin Rating aparece de forma descontextualizada na publicação verificada. A publicação não cita a consultoria responsável pelo ranking, impossibilitando que o leitor identifique a fonte, e não menciona que o crescimento trimestre a trimestre foi alto em um contexto de desaceleração da economia global.
Além disso, destaca Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a posição do Brasil no ranking depende da base de comparação, trimestral ou anual. Enquanto o Brasil é terceiro colocado na base trimestral, o país cai para as últimas posições na base anual.
Enquanto na comparação em relação ao três meses anteriores, a economia brasileira cresceu 0,4%, em relação ao mesmo período do ano passado, a alta foi de 1%. Quando se considera este crescimento anual de 1%, o Brasil cai para a 36ª posição entre 42 países.
O crescimento é o maior em seis anos?
Ao contrário do que afirma o post, as taxas de crescimento do segundo trimestre de 2019 não são as maiores taxas dos últimos seis anos, seja considerando as altas sobre o trimestre imediatamente anterior, sobre o mesmo trimestre do ano anterior ou crescimento acumulado anual. Uma consulta ao Sistema Nacional de Contas Trimestrais (SNCT) do IBGE mostra isso.
No primeiro caso, trimestre a trimestre, houve várias altas maiores no período. A maior foi no primeiro trimestre de 2017, de 1,6% com ajuste sazonal.
No segundo caso, sobre mesmo período do ano anterior, a maior taxa dos últimos seis anos foi no primeiro trimestre de 2014: 3,5%, além de ter sido maior em outros cinco trimestres em 2017 e 2018.
No terceiro caso, de crescimento acumulado em quatro trimestres, foram verificadas taxas maiores nos três primeiros trimestres de 2014 e em todos os trimestres de 2018.
Evolução do PIB trimestral
Clique aqui e eja a variação do crescimento da economia em três medições diferentes nos últimos seis anos
A única forma de, como faz a publicação, dizer que se trata do maior crescimento em seis anos, seria considerando apenas o segundo trimestre de cada ano, na comparação com o mesmo período do ano anterior, ou em relação aos três meses anteriores. No entanto, este não é o critério utilizado pela Austin Rating para colocar o Brasil em terceiro lugar globalmente.
Qual a projeção de crescimento do Brasil?
O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que o crescimento do Brasil este ano seja de 0,9%, o que colocaria o país no 58º lugar globalmente, junto com Bahamas, Japão e Suécia. A entidade prevê que a economia global cresça 3% em 2019; as economias desenvolvidas devem expandir 1,7% e as emergentes, 3,9%.
No ano passado, o FMI registrou alta de 1,1% no PIB brasileiro. A economia global cresceu 3,6% e os países emergentes tiveram variação média de 4,5% no Produto Interno Bruto.
Repercussão nas redes
O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização.
A publicação no Facebook teve mais de 26 mil compartilhamentos entre os dias 25 de outubro e 1º de novembro. Na página do “Movimento Avança Brasil”, a mesma imagem teve 1,7 mil compartilhamentos desde 24 de outubro.
Saiba mais
Entenda o que é o PIB e como ele é calculado (Estadão)
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Investigação e verificação
Estadão e Exame participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos Poder 360, UOL, Correio, O POVO, A Gazeta, GaúchaZH, Folha e SBT.
Projeto Comprova
Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 24 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. A edição deste ano está dedicado a combater a desinformação sobre políticas públicas. O SBT faz parte dessa aliança.
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