ENGANOSO: Vídeo engana ao sugerir que Lula forçou beijo em comício
Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova
23/10/2022
Enganoso: Narração usada em vídeos publicados nas redes sociais engana ao passar a impressão que o ex-presidente e candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria a intenção de dar beijo na boca de uma menina durante evento de campanha para o segundo turno das eleições de 2022. Os trechos foram retirados de uma transmissão da visita do candidato ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, no último dia 12 de outubro. Por expor a criança que aparece juntamente com Lula no conteúdo desinformativo, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro entendeu que as postagens com afirmações de cunho sexual ferem a integridade da menina.
Conteúdo investigado: Vídeo em que um homem narra imagens do ex-presidente Lula abraçando uma menina e dando um beijo em sua testa: "Tire suas conclusões, isso sim é de se preocupar". Com a narração, a cena passa a impressão de que o petista iria beijar a boca da criança. No momento da aproximação do ex-presidente, há uma segunda narração: "Aí parece que ele lembrou que estava em público".
Onde foi publicado: TikTok.
Conclusão do Comprova: Vídeos que circulam no TikTok tentam, de forma enganosa, sugerir que o ex-presidente Lula teria tentado beijar uma criança na boca. O conteúdo checado narra trecho de transmissão feita no canal oficial do Lula no YouTube durante visita do petista ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, no momento em que ele interage com uma criança da comunidade. O autor da narração sugere que Lula iria beijar a menina na boca, mas que, ao lembrar que estava em público, acabou beijando a sua testa. No vídeo original, é possível perceber que o candidato abraça a garota e, após a fala dela, tenta dar um beijo na bochecha. Por ela estar com o rosto no ombro do político, ele não alcança sua bochecha direita, desvia e a beija na testa.
Saiba mais:
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Após a solicitação da Defensoria Pública, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou a remoção dos vídeos enganosos das redes sociais por entender que as publicações "distorcem vídeo em que o petista aparece abraçando uma menina de sete anos" e expõem, de forma indevida, a imagem da criança. Isso porque o rosto dela não foi borrado em nenhuma das imagens.
Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 19 de outubro, os vídeos veiculados no TikTok alcançaram, juntos, mais de 1 milhão de visualizações. No entanto, as postagens foram removidas da plataforma no mesmo dia, a pedido da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.
O que diz o responsável pela publicação: Como o TikTok não permite o envio de mensagens entre contas que não se seguem mutuamente, o Comprova buscou os dois usuários em outras redes sociais e encontrou perfis no Instagram. A reportagem encaminhou mensagens para os responsáveis pela publicação e aguarda retorno.
Como verificamos: Iniciamos a verificação buscando no Google pela expressão "Lula beija criança", que retornou conteúdo já apurado pelo UOL e uma reportagem publicada pelo Conjur ? revista eletrônica de Justiça e Direito ? que trata de decisão determinando a retirada do ar de vídeo que associa o ex-presidente ao crime de pedofilia.
Também acessamos o canal de Lula no YouTube, onde está disponível a transmissão da visita do petista ao Complexo do Alemão, no último dia 12 de outubro, para entender o contexto da cena em que ele abraça a criança.
Buscamos um posicionamento da assessoria de Lula a respeito do episódio, bem como os perfis nas redes sociais dos autores da publicação analisada nesta checagem.
Vídeo original é do dia 12 de outubro, durante visita de Lula ao Complexo do Alemão (RJ)
A gravação original mostra a menina de sete anos abraçada ao candidato à presidência pelo PT, Lula. Na ocasião, ela fala que apoia o político mesmo não podendo votar ainda. A partir do minuto 25:30, o vídeo mostra quando a criança sobe ao palco e o ex-presidente entrega a ela o microfone para falar.
"Mesmo não podendo votar, o meu apoio é precioso pelo Lula. E, quando ele for presidente, o senhor vai ter que cumprir suas missões, que é tirar o povo pobre desse sofrimento, baixar os preços e reformar escolas", diz a criança.
Após se pronunciar, ela vira o rosto e o apoia no ombro do petista, que a abraça e tenta dar um beijo na bochecha direita, mas a menina se move e o político acaba beijando a testa da garota. O vídeo foi transmitido ao vivo no dia 12 de outubro deste ano, pelo canal oficial de Lula no YouTube.
Na postagem enganosa, o seguinte texto é inserido sobre as imagens do vídeo: "Nojento! Durante comício neste sábado, Lula tentou beijar a boca de uma criança". A publicação dá a entender que o vídeo teria sido gravado no sábado, dia 15 de outubro, e que Lula teria tentado beijar a boca de uma criança.
Procurada pelo Comprova, a assessoria de imprensa do ex-presidente afirmou que "o bolsonarismo tem investido em todo o tipo de fake news para influenciar a eleição de 2022".
Justiça pede remoção do conteúdo enganoso
Em 18 de outubro, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro solicitou a remoção imediata do conteúdo enganoso das redes sociais, como o Twitter e o Facebook, por entender que a imagem da criança foi utilizada para disseminação de notícias falsas com insinuações e afirmações de cunho sexual.
A Defensoria ? que considerou o Facebook e o Twitter "omissos em retirar das suas páginas um conteúdo humilhante e vexatório, produzindo um dano que afronta a dignidade da criança" ? adiantou que os fatos também seriam encaminhados ao conhecimento das autoridades policiais "para apuração de crimes contra as pessoas que estão divulgando suas imagens com o objetivo de uso em campanha para eleições presidenciais".
Após a solicitação da Defensoria, a juíza Luciana de Oliveira Leal Halbritter, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, determinou a retirada dos vídeos recortados dessas plataformas.
Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre a pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Publicações enganosas como esta verificada que envolvem candidatos à presidência podem prejudicar o processo eleitoral, induzir a interpretações equivocadas da realidade e influenciar eleitores no momento da votação. Os cidadãos têm direito de basear suas escolhas em informações verdadeiras e confiáveis.
Outras checagens sobre o tema: O conteúdo checado nesta verificação foi classificado como falso pelo UOL Confere.
O Comprova tem desmentido frequentemente conteúdos relacionados aos presidenciáveis que concorrem neste segundo turno das eleições. Recentemente, mostrou que sinal de ?L? feito por traficantes não é referência a Lula e, sim, saudação de facção que atua no Rio, que Argentina não revogou herança e Lula não tem proposta sobre o tema, que é montagem tuíte atribuído a Bolsonaro com ataques a religiosos católicos e que vídeo engana ao afirmar que Bolsonaro acabou com a multa para demissão sem justa causa.
Investigação e verificação
CBN, UOL, Plural e Correio do Estado participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos UOL, NSC, Piauí, A Gazeta, Grupo Sinos, Metrópoles, Imirante.Com, Estado de Minas, Correio, SBT e SBT News.
Projeto Comprova
Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 42 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Agora, na quinta fase, o Comprova segue verificando conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.
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