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Comprova

ENGANOSO: Votos de seções eleitorais que não estão em site do TSE foram agregadas a outras

Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova

Projeto Comprova/Divulgação
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ENGANOSO | São enganosos os vídeos que sugerem fraude no pleito brasileiro porque eleitores não encontraram o boletim de urna de suas seções eleitorais no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Conforme explicou o Tribunal, as seções não aparecem listadas porque foram agregadas a outras. Isso significa que os votos foram computados, mas, para conferi-los, é preciso visualizar os dados da seção principal.

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Conteúdo investigadoQuatro vídeos que circulam nas redes sociais mostram eleitores tentando acessar os dados da votação de suas respectivas seções eleitorais no site do TSE. No entanto, o número de nenhuma das seções aparece na plataforma. Os casos são de dois eleitores que votaram no exterior (em Toronto, no Canadá, e em Miami, nos Estados Unidos) e dois que votaram no Brasil (em Colíder, em Mato Grosso, e Passos, em Minas Gerais). Nos vídeos, os cidadãos alegam que os votos não foram computados e que, portanto, teria havido fraude no pleito.

Onde foi publicado: TikTok e Instagram.

Conclusão do Comprova: É enganoso que votos em seções eleitorais no exterior e no Brasil não foram computados, indicando uma suposta fraude nas urnas, durante as eleições deste ano.

De acordo com o TSE, as seções das pessoas que aparecem em vídeos publicados nas redes sociais foram, na verdade, agregadas a outras e, por isso, não aparecem na forma como foram pesquisadas. Ainda segundo o Tribunal, a agregação ocorreu em mais de mil seções eleitorais instaladas no exterior.

O TSE também informou que a agregação de seções eleitorais é um método utilizado pela Justiça Eleitoral para otimizar seções que apresentem poucos eleitores, principalmente no exterior, para diminuir custos operacionais.

Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de novembro o post tinha 29.8 mil visualizações, 3.904 curtidas e 177 comentários.

O que diz o responsável pela publicação: Pelo TikTok, o Comprova tentou contato com ?Alex Bolsonaro?, responsável pelo perfil que publicou o vídeo da suposta fraude na seção eleitoral de Toronto, no Canadá. Porém, a rede social só permite a troca de mensagens entre contas que se seguem mutuamente.

O Comprova também fez contato, por meio de mensagem direta no Instagram, com Ana Roberta, que publicou o vídeo indicando uma suposta fraude nos votos de uma seção eleitoral do município de Colíder, Mato Grosso, e até a última atualização desta publicação, não havia obtido resposta.

A equipe do Comprova não conseguiu contato com os autores dos vídeos que indicam supostas fraudes em urnas eletrônicas de Miami (EUA) e da cidade de Passos (MG).

Como verificamos: Começamos a checagem procurando no Google informações de queixas de eleitores relatando que seus votos não foram computados em seções no Brasil e no exterior. Encontramos notícias em alguns veículos de comunicação, tais como o Estadão Verifica, a Reuters e a agência de checagem Aos Fatos. Há reclamações na cidade de Colíder, em Mato Grosso, e na mineira de Passos. Brasileiros que vivem nos Estados Unidos e no Canadá também duvidaram da contagem dos votos.

Procuramos o Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), o de Mato Grosso (TRE-MT) e o do Distrito Federal (TRE-DF), responsável pela votação no exterior. Questionamos também o TSE.

Agregação de seções

Segundo o TSE, as seções eleitorais e os votos depositados nas urnas eletrônicas não sumiram. O que ocorreu, na verdade, é que as seções em que essas pessoas votam foram agregadas a outras. Nesta eleição, a situação ocorreu em 24.163 seções eleitorais do Brasil e em mais de mil seções instaladas no exterior.

De acordo com os esclarecimentos da área técnica do TSE, tanto o site quanto o aplicativo Resultados mostram apenas as informações sobre seções principais. Portanto, a afirmação de que os votos dos autores da gravação e de outros eleitores que votam na mesma urna não foram computados é enganosa.

O órgão também explicou que a agregação de seções pelas zonas eleitorais é uma prática comum e prevista em norma eleitoral, com o intuito de diminuir os custos operacionais ao unir seções eleitorais com poucos eleitores.

Os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) podem determinar a agregação de seções buscando a racionalização dos trabalhos eleitorais, desde que isso não importe prejuízo ao exercício do voto.

Informações sobre seções agregadas e outras situações (como seções distribuídas de ofício) podem ser pesquisadas nas estatísticas eleitorais e no Portal de Dados Abertos do TSE, na planilha de eleitorado por local de votação.

Votos no Brasil foram computados

Dois dos vídeos investigados foram gravados por brasileiros, residentes em Passos, Minas Gerais, e Colíder, em Mato Grosso, que alegam que seus votos não teriam sido computados. No entanto, as seções 0292, de Passos, e 0036, de Colíder, foram agregadas a outras.

Procurado, o TRE-MG informou que a seção teve os votos registrados com os da seção 0316. Em nota de esclarecimento publicada no dia 7 de novembro, o órgão informou que a seção 0292 funcionou no CEMEI Coimbras e que a agregação já estava vigente no primeiro turno da eleição.

| Imagem do boletim de urna impresso, com destaque para a informação sobre as seções agregadas. Imagem: TRE-MG.

De acordo com o TRE-MG, outras 33 seções eleitorais de Passos foram agregadas nestas eleições. No total, a seção 0316 registrou 175 eleitores aptos, dos quais 138 compareceram. Foram 99 votos para Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e 34 para Jair Bolsonaro (PL).

| Imagem do site do TSE com os dados de urna da seção 0316, em Passos.

Em Colíder, Mato Grosso, a seção eleitoral do autor do vídeo, 0036, foi incorporada à 0034. Segundo o TRE-MT, a portaria número 015/2022 publicada no Diário Oficial em 4 de agosto oficializou a agregação de 19 seções no estado.

No total, a seção 0034 registrou 328 eleitores aptos, dos quais 238 compareceram. Foram 55 votos para Lula e 181 para Bolsonaro.

| Imagem do site do TSE com os dados de urna da seção 0034, em Colíder.

Votos no exterior foram computados

Em relação aos vídeos gravados por moradores no Canadá e nos Estados Unidos, tanto a seção 1212, de Toronto, quanto a seção 3345, de Miami, foram agregadas a outras, conforme afirmou o TSE.

No caso de Toronto, a seção em que o autor do vídeo votaria, 1212, foi incorporada à 1031. Segundo dados do TSE, no segundo turno das eleições, a cidade canadense registrou 9.704 votos, sendo 9.299 válidos, 239 nulos e 166 em branco.

Do total, Lula recebeu 5.188 votos (55,79%), enquanto Bolsonaro teve 4.111 (44,21%).

No Canadá, segundo reportagem do G1, Lula venceu com 61,61% dos votos (13.181 votos) e Bolsonaro ficou com 38,39% (8.213 votos). O país tem o quarto maior eleitorado do Brasil fora do território nacional, com 38.988 votantes. Destes, 22.473 (57,64%) participaram da votação no segundo turno, que ocorreu em 53 seções eleitorais espalhadas por quatro cidades canadenses.

No total, a seção 1031 registrou 780 eleitores aptos, dos quais 403 compareceram. Foram 181 votos para Lula e 206 para Bolsonaro.

| Imagem do site do TSE com os dados de urna da seção 1031, em Toronto.

Já no caso de Miami, a seção 3345, presente no título de eleitor do autor do vídeo, foi agregada à 1346, a qual funcionou no Valencia College West Campus, em Orlando. Segundo o TRE do Distrito Federal, todos os 396 eleitores da 3345 votaram com os 399 eleitores da 1346.

"A quantidade de votos da seção pode ser verificada pelo respectivo boletim de urna impresso ao final da votação, bem como há os registros de presença nos devidos cadernos de votação assinados pelos eleitores votantes", informou o TRE, em nota.

No total, a seção 1346 registrou 792 eleitores aptos, dos quais 538 compareceram. Foram 80 votos para Lula e 452 para Bolsonaro.

| Imagem do site do TSE com os dados de urna da seção 1346, em Miami.

Conforme dados do TSE, no segundo turno das eleições, Miami registrou 16.732 votos, sendo 16.245 válidos, 259 nulos e 228 em branco. Do total, Lula teve 3.058 votos (18,82%) enquanto Bolsonaro teve 13.187 (81,18%).

Nos Estados Unidos, segundo reportagem do G1, Bolsonaro venceu com 65,48% dos votos (44.654 votos) e Lula ficou com 34,52% (23.542 votos). O país tem o maior eleitorado do Brasil fora do território nacional, com 182.653 votantes. Destes, 70.429 (38,56%) participaram da votação no segundo turno, que ocorreu em 260 seções eleitorais espalhadas por dez cidades norte-americanas.

Dados do eleitorado no exterior

Nas eleições de 2022, foram mais de 697 mil eleitores brasileiros vivendo no exterior que estavam aptos a votar, o que representa 0,45% do eleitorado total. No primeiro turno, o TSE registrou 304.032 votos. Na ocasião, o ex-presidente Lula terminou à frente da disputa, com 47.39% dos votos válidos, o que representa 138.933 dos votos totais. O presidente Jair Bolsonaro recebeu 122.500 votos, o que corresponde a 41,6%.

No segundo turno, houve elevação no número de imigrantes brasileiros votantes, chegando a 310.148. Lula seguiu à frente na apuração final, com 152.905 votos (51,28%), contra 145.264 (48.72%) de Bolsonaro.

O conjunto de votos dos imigrantes está organizado na chamada "Zona Eleitoral ZZ". Nos últimos quatro anos, o contingente de eleitores que moram fora do Brasil subiu de 500.727, em 2018, para os atuais 697.078, o que representa um aumento de 39,21%.

Segundo o TSE, a votação no exterior contou com 2.197 seções eleitorais, que estão espalhadas em 181 cidades estrangeiras. As mesas eleitorais no exterior são abertas quando a repartição consular da região registra no mínimo 30 eleitores.

Por que investigamos: O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. No atual momento, conteúdos que contêm desinformação sobre o atual presidente ou o eleito podem tumultuar a democracia.

Outras checagens sobre o tema: Ao menos três veículos de comunicação fizeram a mesma checagem. O Estadão Verifica e a Reuters publicaram o caso do eleitor de Miami. Já a agência de checagem Aos Fatos investigou o questionamento de uma eleitora de Petrópolis, no Rio de Janeiro, que afirmou que seu voto não foi contabilizado.

Em outras verificações sobre o sistema de votação e as eleições, o Comprova mostrou que jornalista americano não provou influência de Biden na eleição brasileira, que é falsa a mensagem que atribui a Arthur Lira condução de romeiros a Juazeiro para gerar abstenção no 2º turno e que é falso pedido de prisão em flagrante contra o ministro do STF Alexandre de Moraes após as eleições.

Investigação e verificação

Plural, Tribuna do Norte, imirante.com e CNN Brasil participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos Estadão, Estado de Minas, A Gazeta, CBN Cuiabá, Metrópoles, SBT e SBT News.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 42 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Agora, na quinta fase, o Comprova segue verificando conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.

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