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Comprova

ENGANOSO: Gado retirado de áreas rurais tem a ver com desmatamento ilegal

Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova

Projeto Comprova/Divulgação
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ENGANOSO: É falso que o governo federal tenha vendido a Amazônia a outros países e que esteja ordenando a retirada de cabeças de gado de áreas embargadas para entregar as terras a compradores estrangeiros. Fazendeiros, de fato, foram notificados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), mas as áreas a serem desocupadas foram embargadas por desmatamento ilegal. O objetivo da medida, segundo o órgão, é viabilizar a recuperação da floresta.

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Conteúdo investigadoPost reproduz três vezes, em looping, imagens gravadas em uma área rural com um helicóptero decolando e outro em terra, e uma pessoa mostrando um documento. Na primeira vez, uma mulher diz: "Eles tão notificando as áreas embargadas e estão dando cinco dias para tirar os animal (sic)". Na segunda, um homem afirma que a Amazônia foi vendida na época dos governos de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que ONGs estrangeiras se beneficiariam. Na terceira e última vez em que a gravação é exibida, outra voz cita que, no governo de Jair Bolsonaro (PL), foram retomadas terras que o PT havia entregado a outros países.

Onde foi publicado: TikTok e Facebook.

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Conclusão do Comprova: Post mente ao se apropriar de vídeo de apreensão de gado na Amazônia e inventar narrativa de que a área foi vendida e terá base militar. A publicação viral, que usa imagens verdadeiras de helicópteros em uma propriedade rural, contém alegações falsas a partir de narrações inseridas sobre o vídeo original.

Em um dos áudios no vídeo, um homem não identificado cita cidades da Amazônia e diz que toda a área será desapropriada para ser entregue a outros países. Segundo ele, uma base militar será construída no local. Na terceira vez em que o vídeo é exibido, outro homem diz que Lula e Dilma entregaram terras a estrangeiros e que Jair Bolsonaro, quando presidente, "tomou tudo de volta" e deu aos sem-terras.

As afirmações não procedem. Ao Comprova, Ibama afirmou que os helicópteros mostrados no vídeo participavam da Operação Retomada, deflagrada na região de Uruará, no Pará. A ação, de acordo com publicação enviada pelo órgão, tem "foco na apreensão de gado criado em áreas já embargadas por desmatamento ilegal na Amazônia" para possibilitar a recuperação da floresta. O assunto foi noticiado pela imprensa profissional (UOLMetrópolesCorreio Braziliense).

O Ibama confirmou ter notificado proprietários rurais, mas o motivo não tem relação com suposta venda das áreas. Na verdade, os fazendeiros notificados, segundo o órgão, descumpriram embargos, "o que caracteriza novo crime ambiental". A notificação mostrada no vídeo diz respeito, portanto, ao descumprimento da lei. Uma verificação do mesmo conteúdo feita pelo Estadão Verifica também constatou, a partir de vídeo em melhor resolução, que o documento que aparece na imagem corresponde a notificação de área embargada por desmatamento ilegal. O vídeo, contudo, não está mais disponível.

Também não há registros de "venda da Amazônia" nos governos petistas ou de construção de base militar envolvendo países estrangeiros na divisa entre Tocantins e Maranhão. Não foram localizadas reportagens sobre suposta obra ou negociação. O tema vem sendo explorado há anos, em diferentes contextos, por produtores de desinformação, e a alegação de venda de terras foi negada pelo PT em 2020.

Verificação anterior do Comprova já mostrou ser falso que Lula tenha vendido solo da Amazônia.

Como sugere o vídeo verificado, Bolsonaro, de fato, enquanto presidente, afirmou ser contra a venda de terras para estrangeiros. Em 2021, firmou posição contrária a um Projeto de Lei (PL) que autorizava a comercialização de até 25% da área de municípios a empresas de outros países. O conteúdo omite, contudo, que o PT também se posicionou contra o PL, ocasião rara em que opositores estiveram lado a lado.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 28 de abril, o post no TikTok somava 218,3 mil visualizações, 14,6 mil curtidas, 12 mil compartilhamentos e mais de 2,2 mil comentários. Já a publicação no Facebook acumulava 1,6 mil compartilhamentos, 1,4 mil curtidas e quase 800 comentários.

Como verificamos: O Comprova fez o download do vídeo do TikTok e usou a ferramenta Transkriptor para transformar o áudio do vídeo em texto. Com base nas alegações feitas pelos narradores, buscou no Google palavras-chave como "áreas embargadas, gado, Amazônia"; "base militar, venda, Amazônia"; e "venda, terras, Bolsonaro, estrangeiros".

A pesquisa retornou verificação sobre o mesmo vídeo feita pelo Estadão Verifica, outras checagens envolvendo suposta venda da Amazônia e conteúdos jornalísticos.

A equipe também fez busca reversa das imagens, por meio do InVid, na tentativa de encontrar outras postagens que pudessem ter usado o mesmo vídeo. Por meio do recurso Image Upscaler, oferecido pelo site Clipdrop, aumentou a qualidade das imagens para buscar pistas no próprio vídeo.

Por fim, a equipe enviou e-mail para as assessorias de imprensa do Ibama e do Ministério da Defesa. O último órgão não havia respondido os questionamentos até a publicação desta verificação.

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova enviou mensagem pelo TikTok ao perfil @clory_usa e, via Facebook, ao perfil de Vera Würzius. Ambos não deram retorno até a publicação da verificação.

O que podemos aprender com esta verificação: O conteúdo verificado faz uso de imagens com baixíssima qualidade. Essa é uma estratégia comumente usada por produtores de desinformação. Neste caso, a baixa resolução impede a leitura do documento exibido pela mulher na gravação.

Além disso, os narradores, que enfileiram informações sem citar fontes, não são identificados. Esse é um sinal de alerta. Um dos homens chega a usar o termo "a princípio", o que indica que ele não tem certeza sobre o que o está falando.

Nesses casos, desconfie! Procure se informar sobre o tema, fazendo buscas no Google e lendo notícias divulgadas pela imprensa profissional. Se a Amazônia tivesse, realmente, sido vendida, o tema teria gerado repercussão mundial e motivaria uma série de reportagens sobre o assunto.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: O mesmo conteúdo foi desmentido pelo Estadão Verifica. Post similar, com alegações parecidas, foi classificado como falso pela Agência Lupa.

O Comprova já investigou outras peças de desinformação envolvendo o presidente da República e a suposta venda da Amazônia. Constatou, por exemplo, que vídeo engana ao dizer que Lula vendeu Amazônia a mineradora em troca de dinheiro para o Fundo Amazônia e que é falso que ele tenha vendido solo da Amazônia a empresa norueguesa em documento secreto.

Investigação e verificação

UOL, Grupo Sinos e Folha participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos A Gazeta, Plural Curitiba, O Popular, Estadão, SBT e SBT News.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 41 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Na quinta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.

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