Publicidade
Comprova

ENGANOSO: Vídeo tira de contexto declarações de pastor à CPI da Covid para atacar vacinas

Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova

Projeto Comprova/Divulgação
Publicidade

ENGANOSO: É enganoso vídeo que usa trechos do depoimento do reverendo Amilton à CPI da Covid afirmando que ele se arrepende de ter escondido efeitos colaterais de vacinas. Na verdade, o reverendo admitiu culpa em esquema de superfaturamento envolvendo a compra de imunizantes.

---

Conteúdo investigadoVídeo exibe recortes do depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula à CPI da Covid, realizada em 2021, com os textos sobrepostos: "Ele se arrependeu por esconder os efeitos colaterais que estão matando as pessoas" e "Ele tanto pediu pras pessoas tomarem a vacina que não tinha efeitos, nem causava doenças, ele por guarda a verdade pessoas estão ficando doentes no Brasil (sic)".

Onde foi publicado: TikTok.

Saiba mais:
>> Acesse o SBT Comprova
>> Acesse as verificações e informações do SBT News De Fato
>> Leia as últimas notícias no portal SBT News

Conclusão do Comprova: Vídeo desinforma ao incluir legenda enganosa em recortes do depoimento do reverendo Amilton Gomes de Paula à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, em 2021. A peça de desinformação sugere que o depoente se arrependeu de ter escondido efeitos colaterais da vacina. Na verdade, ele se referia ao seu papel como atravessador nas negociações de compra da vacina Astrazeneca com suspeita de superfaturamento. O reverendo Amilton foi indiciado pela CPI por tráfico de influência.

O Comprova considera enganoso o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Quando esta verificação foi aberta, no dia 4 de julho, o post registrava mais de 32 mil curtidas e mais de 20 mil compartilhamentos no TikTok. Depois disso, o vídeo foi apagado da plataforma.

Como verificamos: Primeiramente, como o depoente no vídeo aparece chorando, buscamos pelos termos "chora CPI covid" no Google. Assim, identificamos, a partir de notícias, que se tratava do reverendo Amilton de Paula.

A busca retornou reportagem do G1, com o título "Reverendo que negociou venda de vacinas chora na CPI da Covid"; registro do YouTube do portal Poder 360, com o título "Reverendo Amilton chora durante CPI da Covid e pede "desculpas ao Brasil"; e do UOL, com o título "Reverendo chora e admite culpa: "queria ter vacina para o Brasil". Os vídeos publicados pelo UOL e pelo Poder 360 destacam trechos usados na publicação desinformativa.

Em seguida, buscamos pela íntegra da transcrição do depoimento do reverendo nas notas taquigráficas do Senado. Nesta fonte, foi possível identificar que os trechos usados na peça de desinformação não eram contínuos, mas recortes de trechos diferentes posicionados em sequência.

Primeiro recorte do vídeo

Logo no início do trecho usado na publicação desinformativa, em que afirma "tenho culpa, sim", o reverendo respondia a perguntas do senador Marcos Rogério, que questionava "qual o seu real papel em tudo isso?". A resposta do reverendo pode ser consultada na minutagem 15:40.

Segundo recorte do vídeo

O segundo recorte é da pergunta feita pelo senador Omar Aziz (PSD), no minuto 15:56, em que ele diz "o senhor chorou e se arrependeu do quê?", e o reverendo Amilton responde: "de ter estado nessa operação das vacinas".

O vídeo continua com a fala de Omar Aziz:

"Pois é. E aí, Senador Eduardo Girão, sem querer politizar, sem querer, mas fazendo comparativos, a Pfizer manda 101 e-mails para o Ministério da Saúde, e o Pastor consegue, em horas, que as portas se abram pra ele ? você está me entendendo? -, numa mágica, numa coisa espantosa, não é?

Daí o argumento do Governo é não pagou, não pagou. Não, tripudiou na compra da vacina. Recebe em horas, e se abrem as portas para o reverendo entrar no Ministério da Saúde, coisa que o senhor não consegue fazer, coisa que eu não consigo fazer, coisa que nenhum senador consegue fazer aqui. Mas deixa de responder mais de cem e-mails pra a Pfizer.

O reverendo

Amilton Gomes de Paula é reverendo e fundador da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), uma organização não governamental sem qualquer histórico de atuação na área de vacinas. Em 3 de agosto de 2021, ele foi ouvido pela CPI da Covid e apontado como "intermediador" entre o governo federal e a empresa Davati Medical Supply na negociação de 400 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca.

O caso foi investigado a partir de denúncias de possíveis ilegalidades envolvendo suspeita de tentativa de superfaturamento e cobrança de propina. Gomes de Paula foi apontado como mediador entre a empresa e o Ministério da Saúde e marcou reuniões de negociação entre as partes.

Relação com família Bolsonaro

Um registro de junho de 2019 mostra o pastor em um encontro com um dos filhos de Jair Bolsonaro (PL), o senador Flávio Bolsonaro (PL).

Mensagens obtidas pela CPI trocadas entre Amilton e o policial Luiz Paulo Dominguetti ? representante da Davati Medical Supply que denunciou o esquema de cobrança de propina na venda de vacinas ? mostraram que o pastor chegou a dizer a Dominguetti que teria se reunido com o então presidente, Bolsonaro.

À CPI, o reverendo afirmou que estava mentindo em mensagem ao policial e que o encontro não teria acontecido. Ele disse se tratar de uma "bravata". Também no depoimento, ele afirmou que participou da campanha de Jair Bolsonaro à presidência em 2018, mas negou conhecê-lo pessoalmente.

O que diz o responsável pela publicação: O conteúdo desinformativo aparece indisponível no perfil que publicou o vídeo no TikTok. A conta em questão não permite troca de mensagens diretas entre perfis que não se seguem. Sendo assim, não foi possível entrar em contato.

O que podemos aprender com esta verificação: A postagem verificada pelo Comprova usa uma tática comum em peças de desinformação. Ela sobrepõe às imagens alegações em texto que não são confirmadas pelo conteúdo do vídeo. Quem cria esse tipo de postagem conta com a desatenção dos leitores que leem o texto, mas não acessam o vídeo ou não conseguem ativar o áudio. Sempre é recomendável, diante de uma peça que motiva reações emocionais, acessar o conteúdo na íntegra. Nesse caso específico, a edição do vídeo dá pistas de que houve cortes. E quando surge a dúvida sobre a veracidade ou integridade do conteúdo, o melhor caminho é fazer uma busca por notícias que possam refutá-la ou confirmá-la.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema: Conteúdo similar foi checado por Lupa e Aos Fatos. O Comprova publicou diversas verificações de conteúdos de desinformação sobre vacinas, como a que provou que É falso que Parlamento Europeu tenha classificado vacina contra a covid-19 como arma biológica. O Comprova Explica mostrou que a Vacina contra covid-19 não provoca Aids, ao contrário do que sugeriu Bolsonaro em live; entenda e a situação da vacina da Astrazeneca e por que sua recomendação mudou.

Investigação e verificação

UOL e Estadão participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos O Popular, Folha, Grupo Sinos, SBT e SBT News.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 41 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Na quinta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.

Publicidade
Publicidade

Veja também

Publicidade
Publicidade