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ENGANOSO: Vídeo confunde treinamento de militares brasileiros com suposta invasão de soldados venezuelanos

Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova

Projeto Comprova/Divulgação
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ENGANOSO: São enganosas as publicações que afirmam que soldados venezuelanos estariam invadindo o Brasil em busca de refugiados da Venezuela. Vídeos mostram, na realidade, um treinamento realizado pelo Corpo Fuzileiros Navais no estado do Espírito Santo, em outubro de 2023, conforme assinalado pela Marinha do Brasil, desmentindo qualquer relação das imagens com uma invasão venezuelana.

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Conteúdo investigado: Publicações em vídeo que circulam no X (antigo Twitter) mostram militares em área urbana sendo hostilizados por civis e se movimentando com veículos militares. Os vídeos são acompanhados por legendas que afirmam que os militares seriam soldados venezuelanos que "invadiram o Brasil com a conivência do Lula". As postagens afirmam ainda que os militares estariam aqui para prender ou perseguir refugiados venezuelanos.

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Onde foi publicado: X (antigo Twitter).

Conclusão do Comprova: Publicações enganam ao afirmar que soldados venezuelanos estariam invadindo o Brasil. Na verdade, os vídeos analisados mostram o Corpo de Fuzileiros Navais durante um treinamento padrão, realizado pela Marinha do Brasil.

Os posts circulam com dois vídeos distintos. No primeiro, filmado de dentro de uma casa, militares parecem estar em conflito com um civil que repete as frases "vocês estão no meu país" e "atira em mim".

No segundo vídeo, diversos militares disparam e se movimentam em uma encruzilhada. Aqui é possível ver dois veículos blindados de combate, e em um deles há a inscrição da palavra "Marinha" na lateral. Nesse segundo vídeo, também é possível perceber que os militares falam entre si em português.

O Comprova entrou em contato com a Marinha, que informou que as imagens dos dois vídeos são de fuzileiros em treinamento. O objetivo do treino é fazer com que a situação simulada seja a mais próxima da realidade de um cenário de confronto real. Em razão disso, vê-se um civil confrontando os soldados, não existindo qualquer relação com cidadãos brasileiros em confronto com o Exército, muito menos com refugiados da Venezuela.

O treinamento foi realizado em Itaoca (ES) em outubro de 2023. A Marinha esclareceu, também, que esse é "um exercício corriqueiro, que acontece todos os anos. O cenário é o mais real possível, mas o vídeo se desenvolve em uma situação simulada", informou.

Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. As três principais publicações dos vídeos na plataforma X somam mais de 998 mil visualizações, 695 comentários, 6 mil compartilhamentos e 10 mil curtidas.

Como verificamos: Para coletar informações acerca do acontecido, a equipe realizou pesquisas no Google, utilizando termos como "exército venezuelano invade o Brasil". Os primeiros resultados dessas buscas mostraram verificações de outras agências de checagem (Boatos.org e Estadão Verifica) sobre o mesmo assunto, bem como algumas notícias (1 e 2).

Tais verificações e notícias já informaram que os soldados das imagens seriam, na verdade, oficiais da Marinha do Brasil. Logo, o Comprova também entrou em contato com a Marinha, a fim de confirmar ou negar a relação dos soldados das imagens com a entidade, a qual disse que realmente eram fuzileiros brasileiros em treinamento.

O Comprova também tentou contato com os autores das publicações.

Treinamento dos fuzileiros navais brasileiros

O treinamento em Operações de Paz foi realizado entre os dias 16 e 25 de outubro, na região de Itaoca.

A intenção de treinamentos como esse é levar a Marinha a atingir a nota máxima em todos os quesitos do Sistema de Prontidão das Capacidades de Manutenção da Paz das Nações Unidas (UNPCRS), uma espécie de banco de Forças Militares dos Estados integrantes da Organização das Nações Unidas (ONU).

Conforme divulgado, neste caso, "700 militares participaram da operação, atuando em situações simuladas, na execução de atividades como patrulhamento, escolta de comboios, controle de distúrbios, cerco e vasculhamento, estabelecimento de postos de controle de trânsito, entre outras".

As peças de desinformação não refletem a realidade e recorrem a gravações de tais treinamentos para afirmar que seriam venezuelanos, construindo uma narrativa inventada.

Marinha do Brasil e treinamentos para Operações de Paz da ONU

De acordo com o site Poder Naval, especializado em Navios de Guerra, Marinhas de Guerra, Aviação Naval, Indústria Naval e Estratégia Marítima, em abril de 2022, a Marinha Brasileira contava com 74.868 militares na ativa, 92.808 inativos e 65.288 beneficiários de pensão.

Não é a primeira vez que um treinamento para Operações de Paz da ONU é realizado pelo órgão. Por exemplo, em 2022, também no mês de outubro, foi realizado um treinamento UNPCRS no Complexo Naval da Ilha do Governador, Rio de Janeiro.

Na ocasião, as atividades de treinamento foram conduzidas pela Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE) em parceria com o Centro de Operações de Paz de Caráter Naval (COpPazNav), que foi criado em 2008, "a fim de suprir lacuna voltada para o preparo individual e coletivo em função das Operações de Paz (OpPaz)".

O que diz o responsável pela publicação: O Comprova tentou contato com os autores das publicações, mas os perfis não aceitam receber mensagens pelo X.

O que podemos aprender com esta verificação: As postagens usam vídeos reais fora de seu contexto original e são compartilhadas sem informações como local e data de gravação, tornando sua identificação mais difícil. Ao se deparar com uma publicação como essa, desconfie. Pesquise sobre o tema abordado junto a fontes confiáveis, como órgãos oficiais e veículos jornalísticos.

Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras checagens sobre o tema:

Além do site Boatos.org e do Estadão Verifica, a Lupa e a Reuters também checaram os vídeos.

Temas relativos à Venezuela são utilizados frequentemente por desinformadores. Já mostramos que post sobre ?fuga de venezuelanos? ao Brasil mostra vídeo de pessoas migrando para o Panamá; que é falso que Biden tenha convocado Congresso por falas de Lula em apoio à Venezuela; que vídeo sobre confronto envolvendo manifestantes e Exército venezuelano na fronteira com o Brasil é de 2019; e que postagem engana ao relacionar apagão a decreto para compra de energia na Venezuela.

Investigação e verificação

GZH e Correio do Estado participaram desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos Portal Norte, AFP, Estadão, Folha, SBT e SBT News.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 41 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Na quinta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97045 4984.

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