"A gente vai calar a boca de muita gente", diz Valesca Popozuda sobre sua presença no funk
Em conversa exclusiva com o SBT POP, a cantora falou sobre o retorno às origens do anos 2000 e o crescimento das mulheres no funk
25/10/2023
Não dá para falar sobre o funk dos anos 2000 sem falar de Valesca Popozuda. Nascida no subúrbio carioca, a cantora começou na música quase que "sem querer" com a Gaiola das Popozudas e se consagrou como uma das precursoras do funk feminino brasileiro. Para a loira, o caminho a ser seguido pelas mulheres no gênero ainda é longo, mas esse espaço vem sendo constantemente preenchido.
"Eu amo isso, eu quero ver cada vez mais nosso funk crescendo, cada vez mulheres cantando junto comigo, sabe? Mostrando pra que veio mesmo, grandonas, sabe? Então hoje eu vejo que é assim: gente abriu uma porta, eu e as outras meninas que estavam ali começando, e elas [as novas cantoras] estão dando continuidade a esse movimento todo de lá atrás", afirmou ela em conversa exclusiva com o SBT POP.
"Tem preconceito aqui e ali, mas a gente venceu muito já, sabe? E quanto mais mulheres vierem, melhor ainda, que a gente vai vencer cada vez mais, a gente vai calar a boca de muita gente", completou.
O processo de empoderamento, no entanto, levou tempo. Segundo Valesca, foi só após ter entrado no universo masculino do funk que os questionamentos sobre seu corpo e as letras cantadas surgiram.
"Quando eu comecei a cantar, eu via esse machismo rodando, e a gente não podia nada. Eu falei: 'peraí, a gente não quer desrespeitar ninguém, a gente não quer ser melhor do que ninguém, a gente apenas quer respeito e igualdade. Por que eles podem e a gente não pode?'", apontou a funkeira. "Quando eu peguei esse microfone, eu falei: 'cara, eu tenho uma arma tão importante na minha mão'. A minha voz pode ecoar por aí, e eu só quero que elas [mulheres] entendam que eu estou aqui pra cada vez mais enaltecê-las, sabe? Levantar essa bandeira e dizer: 'não abaixe a sua cabeça, olhe no espelho, olhe o quanto você tá incrível, tá se importando com o que as pessoas estão falando por quê? Por que as pessoas vão ditar suas regras e você tem que aceitar?'."
"E eu recebo essa troca, elas chegam para mim e falam: 'nossa, você não sabe o quanto você foi importante e essencial na minha vida'. Cara, ouvir isso é muito gratificante. Não tem dinheiro que pague na vida, sabe? E eu digo: 'eu não desisti, eu lutei, luto até hoje e vou continuar lutando por nós, entendeu?'", garantiu a famosa.
No último mês, Valesca embarcou na onda de nostalgia que embala os anos 2000 e lançou a música "Mó Negoção", ao lado de Kevin O Chris e Mousik. Inspirada na estética e ritmo do início deste milênio, a cantora - que é conhecida pela famosa frase "agora eu sou solteira e ninguém vai me segurar" - voltou às origens e cantou novamente sobre a solteirice.
"Relembrar com o Kevin é muito incrível, é mágico, porque ele é um cara incrível que você vê que é mesmo a essência dele. É um grande produtor, compositor e se entrega mesmo no projeto. Ele põe a voz ali, ele vai. Ele não só grava a voz e: 'tchau, vou embora'. Não, ele fica ali no processo da música, tudo junto, falando, conversando: 'o que você acha? Ah, não, isso a gente troca'. Foi muito bom estar no estúdio com ele, porque era um sonho, né? Já acompanho desde o começo, e a gente sempre se encontrava e falava: 'vamos fazer, vamos fazer'. Mas eu costumo dizer que tudo tem a hora certa. E chegou e foi, né?", contou ela sobre a parceria.
"Eu acho que eu não escutava tanto um lançamento meu como eu estou ouvindo esse", revelou Valesca, que ainda mostrou que fez uma tatuagem no pescoço inspirada no single.
Apesar de a música remeter aos começo dos anos 2000, muitas coisas mudaram desde então. As redes sociais não só trouxeram uma ampla possibilidade de divulgação, como criaram a obrigação de que os hits viessem acompanhados de coreografias virais que pudessem repercutir pela web. Refletindo sobre o assunto, Valesca se vê desprendida dessa obrigação e, assim como era no início de sua carreira, preza por uma troca diferente com o público.
"Eu quero fazer meu som pra galera cantar, eu quero ouvir a voz, eu não quero bracinho, não. Eu sou essa troca com o meu público, eu falo, eles conversam comigo, eu vou interagindo com eles. Não vou interagir com a mão. Não, não, não, não. Eu quero voz. Quero eles gritando", explicou ela.