Publicidade
SBT Na Web

Veja a última entrevista de Zé Bonitinho ao site do SBT

26/03/2015

Publicidade

Por Adolfo Nomelini

Morreu nesta quinta, 26 de março, o ator Jorge Loredo, que ficou conhecido como Zé Bonitinho. Em 2010, quando estava completando 50 anos do personagem, Loredo deu uma emocionante entrevista ao site do SBT relembrando os momentos mais marcantes de sua vida. Confira:

+ Morre Jorge Loredo aos 89 anos
+ Relembre participações do humorista na Praça

+ Fotos: Zé Bonitinho arrancava risadas
+ Carlos Alberto fala do esforço de Jorge Loredo para gravar mesmo doente
+ Famosos lamentam morte do humorista Jorge Loredo

 

 

 

Como foi a sua infância?
Foi muito tumultuada. Eu tive uma infância e uma adolescência muito doentias. Eu tive um machucado na perna que se transformou em uma doença chamada Osteomielite, que me perseguiu até os 46 anos de idade. Isso foi bravo, mas felizmente, eu não tive reincidência.

Isso fez com que o senhor tivesse uma infância mais introvertida?
Sim. Sempre fui muito introvertido porque como eu tinha uma limitação física, ficava só observando. Eu era muito tímido. Fora da cena eu sou supertímido.

Na adolescência o senhor também teve um problema pulmonar...
Quando eu alcancei meus 18 anos, eu vim trabalhar na cidade. Eu sou do subúrbio do Rio de Janeiro, de Campo Grande, que é distante do Rio. Então, acordava muito cedo, eu me alimentava mal para chegar ao trabalho. Do trabalho eu ia para o colégio. Do colégio eu pegava o trem para voltar. Mal eu chegava em casa e já estava na hora de voltar. Isso me enfraqueceu um pouco e deu um problema pulmonar. Mas eu era bancário naquela época. O Instituto dos Bancários tinha uma assistência perfeita e fui muito bem atendido e logo me liberei do problema. Eu fumei dos 12 até os meus 80 anos. Resultado: o médico mandou eu parar de fumar para acertar a respiração e agora eu não fumo mais. Não fumo e não bebo.

E até então o senhor nunca havia pensado em ser ator?
Eu estava naquela fase do jovem que não sabe o que quer ser, então no banco em que eu trabalhava, o chefe do Departamento Pessoal disse para eu procurar um teste vocacional. O resultado foi “Magistério, diplomacia, tendência a pesquisas e atividades exibicionistas”. Eu perguntei para o psicólogo o que devia fazer. Ele disse para eu procurar uma faculdade de Direito e uma escola de Teatro. Foi o que fiz.  Eu me formei em advogado, entrei para escola de teatro e estou aqui dando esta entrevista para você.

E como foi a reação da família? Eles apoiavam a carreira de ator?
Sempre. Porque eu tenho um irmão, o João Loredo, que na minha opinião, não querendo desmerecer os outros, foi e ainda é um dos maiores diretores de televisão do Brasil. Além disso, todo mundo apoiava por uma razão muito simples: a minha mãe era costureira de circo. Eu ia entregar as roupas, talvez daí tenha ficado isso na minha cabeça.

E o senhor chegou a exercer a carreira de advogado?
Eu exerci pouco. Cheguei a ser advogado do Sindicato dos Artistas, no Rio de Janeiro, para a área de Previdência Social e Direito do Trabalho, na época em que o presidente era o Otávio Augusto, na década de 80.

E na carreira de ator, quando o humor apareceu?
Primeiro devo dizer a você que eu não sabia que eu era humorista, que eu tinha tendência para a comédia. A coisa foi surgindo naturalmente. Quando eu vi, estavam dizendo que eu era engraçado, mas eu não me achava engraçado. Foram as pessoas que descobriram e me falaram. Duas pessoas tiveram influência muito positiva na minha vida: Manoel de Nóbrega e Chico Anysio. Esses dois foram os que me seguraram e me apoiaram. Não estou desmerecendo os demais, mas eles foram os que acreditaram em mim e me deram oportunidade.

Antes do Zé Bontinho, qual outro personagem marcou para o senhor?
Eu fazia vários personagens. Não sei exatamente a data, mas o Manoel de Nóbrega levou “A Praça da Alegria” para o Rio de Janeiro. Aqui em São Paulo, o Borges de Barros, um ator, fazia o Mendigo Aristocrata. Foi todo mundo com o Manoel para o Rio, menos o Borges, porque ele era um grande dublador, tinha muitos compromissos e não podia ir para o Rio. Naquele tempo não tinha ponte aérea, nem VT... Não sei por qual razão, mas o Seu Manoel de Nóbrega pediu para que eu fizesse o Mendigo, mas com uma condição: que eu não procurasse saber como ele era feito em São Paulo e nem imitasse o rapaz. Eu tinha que ter uma criação própria. Ele me deu o roteiro e, como eu já tinha uma educação teatral, fui feliz na criação de um personagem completamente diferente do Borges. Foi através desse personagem que o pessoal da televisão passou a acreditar em mim e os outros personagens surgiram. Eu trabalhava antes na TV, mas em pequenos quadros, quem me projetou, me deu a primeira oportunidade pra valer foi  o Manoel. Aí o Chico Anysio me viu fazendo esse Mendigo e eu disse para ele que tinha um tipo que era o Zé Bonitinho.

O Mendigo brincava com o JK em cena. Como era a sua relação com o presidente?
Eu só falava nele durante a apresentação. Mas eu o conheci pessoalmente porque no meu segundo casamento, ele foi o padrinho da minha noiva. E ele e a D. Sarah (Kubitschek). Minha esposa naquela época era primeira bailarina do Teatro Municipal, e sempre fazia concertos de balé para a D. Sarah. O meu padrinho de casamento foi o Manoel de Nóbrega e a esposa dele.

Voltando a falar no Zé Bonitinho, como ele surgiu?
Ele apareceu imitando um amigo meu da adolescência. Evidentemente, exagerei nos óculos, no pente... O personagem foi surgindo, mas o nome dele era “Bárbaro”. Eu descobri “Zé Bonitinho” ao ver um garçom numa churrascaria em que eu estava reclamando da comida. O garçom disse que ia chamar o cozinheiro que era muito metido a bobo e ele disse “Zé Bonitinho, vem cá”. Quando o cozinheiro chegou, era um cara horrivelmente feio, com um dente só na frente. Comecei a rir e surgiu o apelido de Zé Bonitinho.

Quando o senhor fez pela primeira vez o Zé Bonitinho, deu para perceber na reação das pessoas que aquilo seria um grande sucesso?
Não. Eu saí contrariado porque eu fazia o Mendigo e o pessoal ria porque ele era metido a louco e tal. Mas quando eu fui fazer o Zé Bonitinho pela primeira vez, eu estava achando que estava fazendo um grande papel dramático, uma grande performance. Aqueles risos estavam me incomodando. Quando saí de cena, o Chico Anysio me viu e perguntou o que havia acontecido. Eu disse que todo mundo estava rindo. Ele me falou que era claro que tinham que rir. Eu não tinha entendido. Depois fui me adaptando e vi que o tipo era engraçado.

E qual história engraçada envolvendo o Zé Bonitinho vem agora à sua cabeça?
Uma vez uma mulher me procurou no camarim e me convidou para ir à casa dela passar a noite com ela. Eu fiquei meio em dúvida, mas fui levando. Já estava disposto a ir, tirei a roupa toda do personagem, e ela disse “Não. Eu quero você, mas vestido de Zé Bonitinho”. Claro que eu não fui (risos).

Tem alguma característica do senhor no Zé Bonitinho?
Eu acho que não. É o personagem mesmo.

E depois do Zé Bonitinho, a sua relação com as mulheres mudou?
(Risos) Claro que mudou. Todo mundo pensa que pelo fato de eu fazer o Zé Bonitinho todas as mulheres estão à minha disposição. Mas isso não é verdade.

Mas o senhor já foi casado quantas vezes?
Três vezes.

E tem filhos?
Para a minha idade, os meus filhos são jovens porque eu só fui pai a primeira vez aos 46 anos e a segunda vez aos 50. Então, tenho um filho de 35 e outro de 38.

Falando em jovens, o senhor está cada vez mais popular entre eles. Dava para esperar isso?
Pois é...   Sinceramente, não. Uma vez fui convidado para fazer uma apresentação na MTV e perguntei para a garotada que me entrevistava o motivo do convite. Eles me disseram que era porque eu sou uma figura de desenho animado. Eu não sei se é por isso que a garotada gosta. Mas eu fico surpreso.

O público infantil também tem uma identificação grande com o Zé Bonitinho...
É, e, sinceramente, eu também não sei o motivo. Quando eu comecei a fazer o Zé Bonitinho, eu fumava em cena. Uma senhora me encontrou na rua e pediu para eu parar de fumar porque o neto dela gostava muito de mim e estava comprando cigarrinho de chocolate para imitar. Eu disse para ela ficar tranquila que eu nunca mais ia fumar em cena. E nunca mais fumei.

Depois que o senhor percebeu essa identificação com as crianças, houve alguma preocupação especial?
Uma foi não botar cigarro na boca e se eu tiver que fazer uma cena de violência, eu faço brincando.

E como é a reação das pessoas quando encontram o senhor sem a fantasia nas ruas?
Elas me reconhecem porque eu já fiz vários programas vestido normalmente. E passou há pouco tempo na TV o documentário sobre mim. Então, o pessoal me identifica sem maquiagem.

E depois de tantos anos de carreira, como foi ver a trajetória em um documentário?
Foi emocionante. Por mais que você não queira se emocionar, você se emociona.

E o senhor acredita que possa ter um sucessor para o Zé Bonitinho?
Não sei. (pausa) Como eu vou adivinhar? Eu não pensei nisso ainda.

O Zé Bonitinho é um personagem universal...
Os meus fãs de antigamente estão me apresentando aos netinhos que são meus fãs agora. Eu acho que eu já peguei a terceira geração. E se o Grande Mestre lá em cima permitir, é capaz de eu pegar a quarta.

Como é a sua relação com o Carlos Alberto de Nóbrega e com o pessoal de A Praça é Nossa?
É uma relação muito boa porque quem me colocou na Praça foi o Manoel de Nóbrega, o pai, fazendo o Mendigo. Então, desde aquela época, eu me relaciono com eles, com o Carlos Alberto, o Golias, que não está mais aqui, mas continua em outro plano. Foi sempre uma relação de família praticamente.  
 
Em algum momento o senhor sofreu algum tipo de preconceito?
Vou ser franco. Se houve preconceito, eu não percebi.

Agora quando o senhor para e pensa em toda a carreira, nos 50 anos do Zé Bonitinho, o que passa pela cabeça?
Tem hora que eu não acredito que eu passei por tudo isso. Eu digo “Pelo amor de Deus! Quanto tempo eu já passei isso!”. E estou aqui até o dia que me for permitido.

E qual a sua vontade para a carreira?
A minha vontade é eu trabalhar até quando me permitirem. Mas eu gostaria mais de escrever, de ser um tipo de um diretor.


Fotos: Divulgação/SBT

Publicidade
Publicidade

Veja também

Publicidade
Publicidade