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Comprova

Imagem de repórter com traje de proteção contra o coronavírus é tirada de contexto para atacar a mídia

Repórter não usou traje de proteção contra coronavírus "para causar pânico" como afirma post verificado pelo Comprova. Ela estava demonstrando uso de roupa produzida para médicos

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A foto de uma repórter de TV vestida em traje completo de proteção no Líbano viralizou no Facebook no Brasil com legenda que acusa a mídia de fabricar pânico em torno da pandemia do novo coronavírus ? já que o cinegrafista que captava as imagens não usava nenhum item de proteção. A realidade é que a jornalista paramentada produziu uma reportagem sobre uma fábrica local de roupas de proteção para profissionais da área da saúde e experimentou um dos trajes apenas para demonstrá-lo em uma aparição ao vivo na emissora em março deste ano.

A matéria foi divulgada no dia 18 de março pela Al Hadath, uma TV com base em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A repórter, Ghinwa Yatim, fez uma transmissão ao vivo de Beirute, no Líbano. Como ela explicou em seu Twitter, a reportagem focava em uma fábrica que produzia equipamentos médicos com materiais alternativos, uma vez que existe dificuldade em importar trajes para proteção contra o coronavírus em meio à crise da economia libanesa.

Na rede social, a repórter Yatim acrescentou que, durante a entrada ao vivo, afirmou que não havia motivo para pânico em Beirute. Ela frisou que só usou o traje para demonstrá-lo, e por isso o cinegrafista não precisou vesti-lo. O Comprova entrou em contato com uma jornalista da AFP em árabe, que confirmou o que Yatim disse nos vídeos.

Esta verificação investigou uma postagem feita por um perfil pessoal no Facebook. Enganoso para o Comprova é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado.

Como verificamos

Um comentário postado na publicação da foto no Facebook indicava o contexto original da imagem e fornecia links para a reportagem sobre a fábrica de trajes. A partir daí, o Comprova encontrou a conta de Ghinwa Yatim no Twitter, onde ela explica em inglês a motivação de sua matéria.

Por que a repórter usava um traje completo de proteção e o cinegrafista não?

A reportagem veiculada pela emissora Al Hadath mostrava a produção de trajes de proteção contra o coronavírus por mulheres libanesas para uso pela equipe médica de hospitais. A repórter Ghinwa Yatim explicou no Twitter que a fabricação local de roupas poderia reduzir a crise de importação de equipamentos no exterior.


Enquanto entrava ao vivo de uma rua de Beirute para falar da reportagem, Yatim foi gravada por uma terceira pessoa, o produtor e vídeojornalista Michael Downey. Ele publicou o vídeo em seu Twitter com críticas à repórter. Na rede social, Downey afirma ter feito trabalhos para veículos como New York Times e BBC.

Após a repercussão negativa do uso do traje de proteção, Yatim publicou uma thread no Twitter em que explica a reportagem. A jornalista explicou que estava experimentando um traje que foi especialmente produzido na fábrica para ela. A repórter informou também que usou a roupa apenas para falar sobre ela, e por isso não havia necessidade de o cinegrafista também usar o traje.

Yatim acrescentou que Beirut já estava em quarentena e ela escolheu uma rua mais vazia para gravar a entrada ao vivo. Até esta quarta-feira, 25, foram registrados 333 contágios por coronavírus no Líbano, com quatro mortes e oito recuperações.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda a utilização de máscaras apenas por pessoas que tiverem contato com pacientes da covid-19 ou por aqueles que apresentarem sintomas como tosse e espirros.

Viralização

O produtor e vídeojornalista Michael Downey filmou Yatim e seu cinegrafista em Beirute, criticando o fato de a repórter estar em traje de proteção. Seu vídeo obteve 1,8 milhão de visualizações no Twitter desde o dia 18 de março. No Facebook, a foto da jornalista foi publicada por um usuário no dia 23 de março e obteve mais de 78 mil compartilhamentos desde então.

Investigação e verificação

O Estadão participou desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos Exame, NSC Comunicação e AFP.

Projeto Comprova

Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 24 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. A edição de 2019 foi dedicada a combater a desinformação sobre políticas públicas. Neste ano, os veículos se dedicam a monitorar redes sociais e aplicativos de mensagens em busca de informações duvidosas sobre o novo coronavírus. O SBT faz parte dessa aliança.

Desconfiou da informação recebida? Envie sua denúncia, dúvida ou boato pelo WhatsApp 11 97795 0022.
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