FALSO: Biden não convocou Congresso por falas de Lula em apoio à Venezuela
Confira a verificação realizada pelos jornalistas integrantes do Projeto Comprova
06/06/2023
FALSO: É falso que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenha convocado o Congresso para discutir sanções ao Brasil após falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em apoio à Venezuela. Até o momento, não há nenhum registro de um posicionamento oficial da Casa Branca em relação às declarações do petista.
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Conteúdo investigado: Postagens segundo as quais o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, convocou o Congresso para impor sanções ao Brasil após as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre a situação da Venezuela.
Onde foi publicado: TikTok.
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Conclusão do Comprova: É falso que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tenha convocado o Congresso para discutir a imposição de sanções ao Brasil após as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o cenário político venezuelano.
Nesta segunda-feira (29), Lula recebeu o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, no Palácio do Planalto. Em um pronunciamento, Lula disse que o autoritarismo no país vizinho seria apenas uma "narrativa" e atribuiu os problemas socioeconômicos da Venezuela apenas às sanções impostas pelos Estados Unidos, cuja existência seria "inexplicável", segundo ele.
"É culpa dos Estados Unidos, que fizeram um bloqueio extremamente exagerado. Eu sempre acho que bloqueio é pior do que a guerra, porque a guerra mata soldados em batalha. O bloqueio mata crianças, mulheres, pessoas que não têm nada a ver com a disputa ideológica em jogo", afirmou Lula.
Os comentários do brasileiro foram rebatidos pelos presidentes do Uruguai e do Chile, mas não há no noticiário, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, qualquer registro de um posicionamento oficial da Casa Branca ou do Congresso norte-americano em relação às declarações de Lula.
Se houvesse, este seria um fato de extrema importância e estaria estampado nos noticiários tanto do Brasil quanto dos Estados Unidos, o que não é o caso. Um dos vídeos investigados chega a inventar uma declaração de Biden, segundo a qual ele teria dito que "não perdoaria" as declarações de Lula. Não há nenhum registro dessa suposta afirmação.
O Comprova entrou em contato com a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, mas não obteve resposta até o encerramento desta verificação.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e tenha sido divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 1º de junho, os vídeos publicados no TikTok já somavam mais de 500 mil visualizações e 22 mil curtidas.
Como verificamos: Primeiramente, buscamos notícias sobre o discurso de Lula após o encontro com Maduro no Palácio do Planalto, em Brasília. A pesquisa retornou reportagens que noticiaram o evento e as declarações feitas pelo presidente brasileiro em relação às sanções internacionais ao regime ditatorial do país vizinho.
Em sequência, entramos em contato com a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil e buscamos o posicionamento da Casa Branca sobre as falas de Lula. Por meio das palavras-chave "Biden", "Congresso", "Brasil" e "Venezuela", pesquisamos por notícias que informassem uma suposta convocação do Congresso norte-americano para impor sanções ao Brasil. A pesquisa também foi feita inglês, com intuito de buscar informações em noticiários locais. No entanto, não encontramos nenhum registro em veículos de imprensa nacionais e/ou internacionais.
Declarações de Lula sobre a Venezuela
Nicolás Maduro chegou ao Brasil na noite de domingo (28) para participar da cúpula dos países sul-americanos, realizada nesta terça-feira (30), em Brasília. Maduro não vinha ao Brasil desde 2015, quando a presidente era Dilma Rousseff (PT).
Na segunda-feira (29), Lula recebeu Maduro no Palácio do Planalto, onde tiveram uma reunião privada. Em sequência, os líderes realizaram um encontro ampliado com membros da comitiva venezuelana e do governo brasileiro. Em discurso, o petista condenou as sanções contra o país vizinho e afirmou que a Venezuela precisa divulgar sua própria "narrativa" como contraponto ao que ele chamou de "narrativas" construídas por opositores no cenário internacional.
Lula ainda disse que os "adversários" terão que "pedir desculpa pelo estrago que fizeram na Venezuela". O chefe do Executivo também criticou o preconceito contra o país vizinho e afirmou que o distanciamento entre as duas nações ocorreu por "ignorância, contingências políticas e equívocos".
Durante a reunião, Maduro reclamou de perseguição e afirmou que o país sofreu ameaças de invasão militar dos Estados Unidos. O chavista também disse que pediria aos demais presidentes sul-americanos "a suspensão de todas as sanções e todas as medidas coercitivas contra a Venezuela e contra os países que sofrem esse tipo de sanção" no continente.
Sanções ao governo de Nicolás Maduro
Em 2017, o governo dos Estados Unidos impôs sanções econômicas diretas contra Maduro, entre elas o congelamento de ativos sob jurisdição americana. A medida foi anunciada pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos um dia após a eleição da Assembleia Nacional Constituinte na Venezuela. Já em 2018, o Departamento anunciou novas sanções contra a cúpula do regime chavista. A punição incluía Cilia Flores, primeira-dama do país, e a vice-presidente Delcy Rodríguez.
Desde que Biden assumiu a presidência do país, Washington vem sinalizando uma possibilidade de reaproximação com a Venezuela em troca de uma abertura democrática. Em maio deste ano, em entrevista exclusiva ao Estadão, o secretário do Departamento de Estado, Brian A. Nichols, afirmou que a Casa Branca está disposta a rever a política de sanções se o chavista normalizar o processo eleitoral no país.
Em 2022, os Estados Unidos retiraram parcialmente sanções ao país latino-americano para promover um diálogo político. O governo norte-americano voltou a permitir, por exemplo, que a petroleira americana Chevron negociasse com a estatal venezuelana PDVSA. De acordo com a imprensa local, os Estados Unidos também afirmaram que iriam retirar de sua lista de sanções Carlos Erik Malpica Flores, sobrinho da primeira-dama da Venezuela e ex-funcionário do alto escalão da PDVSA.
O que diz o responsável pela publicação: O Comprova entrou em contato com o perfil @isac.faris por meio do Instagram no dia 31 de maio. Até a conclusão desta checagem, não recebeu retorno.
O que podemos aprender com esta verificação: A peça de desinformação utiliza um fato recente e amplamente noticiado ? o encontro de Lula com Nicolás Maduro ? para inventar uma alegação alarmante e sem base factual.
Sempre desconfie quando o responsável pela autoria do conteúdo fizer uma acusação sem citar fontes. Faça uma busca no Google por palavras-chave relacionadas ao tema e procure resultados em veículos de comunicação profissionais. Se o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, realmente tivesse convocado o Congresso para discutir sanções ao Brasil, a informação certamente seria destacada em diversos jornais do país.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.
Outras checagens sobre o tema: Em 2022, o Comprova checou uma suposta notícia do G1 sobre uma fala de Lula em apoio à Venezuela durante a campanha presidencial.
Recentemente, também verificou conteúdos falsos relacionados ao presidente da República, como o boato de que Lula reconduziu Nestor Cerveró ao cargo que ocupava na diretoria da Petrobras e o suposto projeto do governo federal para implementação de banheiros unissex no país.
Investigação e verificação
Estadão participou desta investigação e a sua verificação, pelo processo de crosscheck, foi realizada pelos veículos Folha, Correio Braziliense, Plural Curitiba, O Popular, UOL, SBT e SBT News.
Projeto Comprova
Esta reportagem foi elaborada por jornalistas do Projeto Comprova, grupo formado por 41 veículos de imprensa brasileiros, para combater a desinformação. Iniciado em 2018, o Comprova monitorou e desmentiu boatos e rumores relacionados à eleição presidencial. Na quinta fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições, além de continuar investigando boatos sobre a pandemia de covid-19. O SBT e SBT News fazem parte dessa aliança.
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