Conheça Ga, tradutora do CBLoL que está trabalhando no exterior
Ga foi a pioneira a atuar na tradução especializada de League of Legends no Brasil e conta tudo sobre sua trajetória até sua nova equipe da Argentina

Ga Kim é conhecida atualmente como uma das principais tradutoras especializadas em League of Legends a atuarem no Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLoL). Mas o que muitos talvez não saibam é que a Ga é uma grande pioneira nos esports, tendo sido a primeira a atuar em um time brasileiro de LoL. E está mais uma vez dando um passo a frente, sendo a primeira profissional de tradução especializada do cenário brasileiro a atuar em um time estrangeiro como tradutora, com a Isurus Gaming.
O início
Ga nasceu na Coreia e com três anos se mudou com a família para o Brasil. A história de Ga no mundo da tradução dos esports começou de forma inesperada. A descendente de coreano e então estudante de biomedicina da USP andava desanimada com as aulas da faculdade em 2018 e no mesmo período a empresa de seu pai faliu. Assim, a jovem decidiu buscar conquistar seu próprio dinheiro e começou a colar cartazes pelas ruas de São Paulo oferecendo aulas de coreano.
Em pouco tempo a Red Canids Corinthians entrou em contato com a Ga para fazer um teste, pois sua line-up tinha os coreanos Sky e Winged, e precisavam de auxílio de tradução especializada em League of Legends. Naquela época Ga nunca tinha feito isso e na verdade nem sabia nada sobre o jogo. Até achava videogame perda de tempo, mas precisava do trabalho e se esforçou para aprender.

"Fiquei nervosa que teria que decorar todos os nomes dos campeões e palavras específicas dentro de jogo", relembra Ga. "Eu não sabia nada de estratégia e tinha que saber se o que falávamos em português era equivalente em coreano." A tradutora estudou muito o jogo e teve ajuda também dos jogadores, que foram pacientes explicando um pouco de meta e estatégias.
Ga conta que um divisor de águas foi Nappon, que a fez prestar mais atenção no meta para aprender aos poucos, não precisando decorar tudo do jogo de uma vez, mas sim os campeões que estavam sendo mais usados. Depois, ao ser contratada pelo Flamengo, outro jogador que a ajudou muito foi Shrimp, que auxiliou em relação a estratégia.
"Ele queria muito aprender português. Tinha dias que ficávamos até 2h da manhã estudando. Ele (Shrimp) me ensinou estratégia do jogo em coreano", afirmou Ga, que disse ter sido bem curiosa, buscando perguntar ao máximo para aprender. "Tradutor é alguém que tem que traduzir o significado de uma coisa para outra", contou. E significado não necessariamente vai ser a tradução lideral.
Como era sua rotina em equipe brasileira
Ga não está atuando como tradutora em nenhuma equipe brasileira no momento, mas na época sua rotina era acompanhar a equipe ao longo de todo o dia de teinamento para auxiliar os coreanos no que precisassem para se comunicarem, fosse treino, feedback, momento de intervalo entre scrims ou mesmo consulta com o psicólogo da equipe.
"Chegava 11h... 12h. E as vezes mais cedo por causa de psicólogo. Os coreanos são muito 'fechadões' e isso às vezes atrapalhava o time, porque podia dar falha de comunicação por uma questão cultural", relembra Ga. Além disso, ela era responsável por realizar tradução dos jogadores para entrevistas jornalísticas e para qualquer necessidade dos patrocinadores.

Mas acima de tudo, Ga buscava fazer os coreanos se sentirem à vontade no Brasil e tentava os fazer falar pelo menos um pouquinho de português para trazer maior proximidade com os demais membros da organização por falarem em seu idioma.
Além disso, mesmo em dia de folga muitas vezes Ga buscava auxiliar os coreanos mais aventureiros que decidiam passear pela cidade.
Mas por que contratar uma tradutora e não fazer o time se comunicar em inglês?
Ga explica que as pessoas se comunicam mais rápido e melhor em sua língua nativa. Além disso, é bom destacar que algumas palavras não tem tradução correta de um idioma para outro. Dessa forma, muitas vezes fica mais fácil
Por isso se mostra tão importante ter um tradutor especializado no game junto aos times.
Ga também explica que no período da chegada do estrangeiro a rotina do tradutor é mais corrida. Os coreanos costumam aprender algumas palavras em português e usam muito de apontar no caderno no início para todos se entenderem. Mas com o tempo e adaptação os jogadores do time criam sua própria linguagem para se comunicarem entre si.
E agora, como é trabalhar com a Isurur Gaming?
Ga está trabalhando com a equipe desde o começo de maio, mas dessa vez de forma remota por se tratar de uma equipe argentina da Latam e a tradutora estar morando no Brasil para finalizar sua graduação de biomedicina.
Ga acompanha os treinos em vídeo e tem acesso aos feebacks do coach. Mas conversa com todos os jogadores e o coach sempre apenas em áudio e busca identificá-los apenas pela voz durante os momentos de comunicação. A própria tradutora optou pelo formato de apenas áudio por acreditar que dessa forma os jogadores se sentem mais confortáveis.
Em junho vai iniciar o segundo split da LLA e poderemos acompanhar o trabalho da Ga com a Isurus Gaming em meio ao campeonato.