PCD Streamers chega para dar visibilidade à comunidade
O projeto idealizado por diversos criadores de conteúdo PcD's e intérpretes de Libras tem como objetivo informar e construir um cenário mais inclusivo
08/12/2021
Feito por pessoas com deficiência para pessoas com deficiência, a iniciativa PcDStreamers vem com a ideia de transformar o cenário de games e Esports mais inclusivo. E para chegar ao objetivo, a iniciativa terá diversos desafios pela frente.
Segundo um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que faz parte do relatório da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019, aponta que 8,4% da população brasileira acima de 2 anos possui algum tipo de deficiência. Representando cerca de 17,3 milhões de pessoas.
Os dados ainda apontam a baixa escolaridade e difícil acesso às universidades. Pois entre as pessoas com deficiência, apenas 5% concluíram o nível superior, onde em comparação às pessoas sem deficiência, o número é três vezes maior.
E essa questão é uma dentre tantas esferas que o PcD batalha para ser incluído. Pois essa falta de integração, acessibilidade e informação, são também refletidos no mercado de jogos eletrônicos, produção de conteúdo e Esports. Mercado onde o PcDStreamers quer fazer a diferença.
Reunindo a comunidade
Inspirada no projeto da Wakanda Streamers, iniciativa que visa dar visibilidade à comunidade preta. O projeto PcDStreamers foi pensado inicialmente pelo Neto "NoHands" Trindade e Daniel "PCDente" Arivar, no primeiro semestre de 2021. Porém, com o falecimento de PCDente em junho, vítima do Covid-19, os planos foram adiados.
Meses depois, a ideia voltou para os papéis após NoHands conhecer outros produtores de conteúdo que também levantam a bandeira, como o Rafael "66blind" Ramos, Rodrigo "dizeritus" Rafael e Gabriel "Machadinho" Machado. Mostrando que todos tinham o mesmo objetivo, e também, honrar o legado do PCDente no cenário.
"A gente foi meio que se conhecendo e jogando junto eventualmente. E percebi que não tinha movimentação nessa área de PcD, em todos os âmbitos. Não só nesse lance de streamer em si, mas até no ponto de vista de esporte eletrônico", disse Rafael "66blind", que é streamer e possui 66% da visão.
Com isso, com uma hashtag que já estava sendo levantada e consolidada na comunidade, o projeto PcDStreamers nasceu com o principal objetivo: agregar, dar suporte e visibilidade às pessoas com deficiência no cenário.
A frente do projeto, o PcDStreamers está com diversos criadores de conteúdo com diferentes deficiências e demandas. Além dos citados, temos o Gabriel "Maizena" Melo, que nasceu surdo e é membro do projeto Libra no Esports; O streamer André "Roy" Marinho, que é cadeirante; O Rodrigo "dizeritus" Rafael, o streamer que possui Osteogênese Imperfecta, mais conhecida como "ossos de vidro", entre outros.
Com isso, o objetivo dos idealizadores é atender todo PcD que está neste ramo ou tem interesse de entrar neste mundo dos games e Esportes. E para quem se interessar, o candidato poderá se inscrever na iniciativa através de um formulário.
"É algo que vai mais além das lives. É conseguir gerar uma comunidade de pessoas com deficiência para pessoas com deficiência e pessoas que não têm deficiência", afirma Machadinho, que nasceu amiotrofia espinhal, e é streamer pela DETONA Gaming e SBT Games.
Além disso, o projeto busca incluir, divulgar e ajudar PcD?s que são ou desejam ser streamers. Futuramente, planejam organizar campeonatos e criar mentorias, para os PcD?s se capacitarem na produção de conteúdo.
Nada é sobre nós, sem nós
A iniciativa quer atingir todo e qualquer tipo de pessoa com deficiência, e para isso, deve-se agregar cada vez mais pessoas e projetos que tenham o lugar de fala.
Com isso, sabendo da PcDStreamers pelos próprios idealizadores, a Wakanda Streamers deu todo suporte de orientação e planejamento para que o projeto pudesse começar com o pé direito.
"Então acredito que tenha sido um encontro de duas ideias que são os mesmos objetivos. É só questão de dar suporte", afirmou Jessyka "suuhgetsu" Maia, streamer, intérprete de libras e idealizadora do projeto Libras no Esports.
Já o streamer Renan "RMK" Miotta, que é cadeirante devido a distrofia muscular, comenta que é muito importante pessoas com deficiência serem os idealizadores dos próprios projetos. Criando assim, uma rede de apoio e empatia para os futuros produtores de conteúdo:
"Existe uma fala muito interessante usada muito por PCDs que é ?nada é sobre nós, sem nós?. Porque o que acontece: a gente vê muita coisa, empresa e projetos usando essa essa bandeira e na verdade tem outros interesses. Então acho que nada mais certo que a gente, PcDs, criar um projeto de inclusão para outros PcDs, e a gente conseguir acolher essas pessoas".
Visibilidade no mercado
Nos últimos anos, a palavra "acessibilidade" foi mais ouvida no mundo dos jogos. Porém, ainda carece de muita informação e inserção no mercado.
Sobre a questão das barreiras que o mercado resiste em quebrar, Rafael "66blind" comenta que existem nomes fortes que levantam a causa, entretanto, sem organização. Situação que o PcDStreamers visa quebrar:
"A gente vê poucas vozes realmente fortes do ponto de vista da comunidade PcD. Temos alguns nomes, umas pessoas aqui, outras ali, mas eu não vejo essa essa articulação quase que política mesmo. Essa articulação de juntar pessoas diferentes, com questões diferentes, realidades diferentes, botar todas elas para conversar, ouvir de todas elas o que cada uma tem a dizer. E a partir disso, levantar a voz".
Para Neto "NoHands", a luta pelo direito de inclusão, é importante tanto quanto outras outras pautas:
"Nós estamos brigando pelo direito de igualdade, como todos os outros movimentos já estão brigando há algum tempo. E nós estamos começando agora esse questionamento, como isso de marca, porque agora é que nós estamos tendo pela primeira vez pessoas como Machadinho, tentando espaço na TV em tempo nobre para falar das suas vivências, do que faz o que deixa de fazer. Só depois de muita obra social que agora estão começando a ver que o pcd pode ser mais do que esse olhar de caridade".
Outro grupo que levanta a causa de trazer mais acessibilidade no cenário de games, é o portal Acesso Restrito. Criado por Isabelle Utsch e Gustavo Richetti, que possuem baixa visão moderada, e Rodrigo Menfer, com baixa visão profunda. O portal tem o objetivo de divulgar a acessibilidade e inclusão, e também, conscientizar as empresas a investirem em jogos e acessórios acessíveis.
Como resultado, o Acesso Restrito também aceitou a aliança entre os projetos, com intuito de consolidar mais a causa:
"A gente quer fazer junto com o PcDStreamers essa essa união de forças porque é muito importante a visibilidade de demonstrar que nós, pessoas com deficiências podemos ser muito mais do que um laudo médico, que fala que a gente vai ficar dentro de casa sem fazer nada", afirmou Isabelle.
Por fim, o PcDStreamers vem com a força e união de diversos projetos e produtores de conteúdo, que estão há anos na batalha pela visibilidade. Buscando novos talentos e reivindicando espaços no mercado. Assim dando orgulho para criadores de conteúdo como PCDente, que visava o cenário de games e Esports menos capacitista e com mais informação.