WIBR Summit foi uma celebração do poder feminino nos games
Evento ampliou vozes femininas em papéis essenciais para no movimento de mudança em busca de maior equidade nos games
27/03/2024
O WIBR Summit, primeira edição do evento inovador da WIBR focado em vozes femininas e suas conquistas no universo gamer, aconteceu nesta terça-feira (26) com a presença de grandes nomes do cenário como Nyvi Stephan, Julia "Jelly" Iris e Babi Micheletto entre as palestrantes. Com três painéis extremamente interessantes e importantes, o evento definitivamente foi palco para celebrar as conquistas femininas nos games e esports até aqui e refletir coletivamente sobre o futuro. Afinal, buscando a equidade, este universo ainda precisa passar por transformações para se tornar cada vez mais seguro, acolhedor e próspero para as mulheres.
Ao chegar no local já dava para sentir uma atmosfera diferente no ar. Diversas mulheres que fizeram e fazem história todos os dias nos games e esports estavam lá, trocando ideia como em uma grande reunião de amigas, aguardando o evento começar. A alegria e companheirismo eram palpáveis.
Pelo evento ser apresentado pela WIBR em parceria com a Natura, um stand de maquiagem estava disponível para quem quisesse dar um up no visual. A feminilidade estava presente em cada passo, inclusive nos profissionais que fizeram o evento e a live acontecerem. Havia sim convidados e profissionais homens trabalhando no evento, mas a equipe era composta por muitas mulheres. Videomakers, fotógrafas e mulheres com diversas outras funções andavam para lá e para cá para garantirem que tudo estava nos conformes e garantindo uma entrega de excelência do evento.
O WIBR Summit começou com uma conversa sobre quando tudo "ainda era terra e nem tinha mato ainda", como brincou Babi Micheletto.
Abrindo caminhos
Nyvi Estephan e Babi dominaram a primeira parcela do painel, dividindo experiências de como foi serem pioneiras em um período em que o universo gamer era completamente dominado por homens, que não queria nem ouvir a voz feminina. E essa questão da voz chega a ser literal, pois Babi queria ser narradora, só recebia oportunidades como apresentadora e quando finalmente conquistou seu espaço no cargo que queria recebeu hate gratuito. Ao buscar feedback construtivo com um homem que havia falado que ela era ruim para evoluir, a explicação dele foi que a voz dela não era igual a de um outro narrador que ele gostava. Nunca vai ser igual e não tinha nenhum problema técnico com o papel que ela estava desempenhando. E Nyvi mostrou que é gente como a gente:
"É difícil tentar abrir porta onde é parede. Tomei muita porrada e ainda tomo, mas já vivi também coisas incríveis."
A dupla fez questão de destacar como é importante conviver com a diversidade para evoluir e quão necessária é a inclusão para que tudo isso ocorra. E por falar em inclusão, Julia "Jelly" Iris é jogadora de VALORANT da MIBR e entrou no cenário há menos tempo, mas definitivamente projetos inclusivos como a Taça das Minas, criado pela Babi, fizeram toda a diferença para que ela possa estar aqui hoje. Afinal, como jogadora trans, as portas do cenário competitivo nem sempre estiveram abertas e cheias de amor para ela. No começo de sua carreira, Jelly não tinha em quem se espelhar e afirma ser um sonho realizado poder servir de inspiração para outras mulheres começarem a trilhar o competitivo como carreira.
Essa fala da @NyviEstephan bate fundo na alma?
? Rafaela Arnoldi (@rafaarnoldi) March 26, 2024
Minha inspiração sempre foi a garra da minha mãe, como ela equilibrava vários pratinhos pra não deixar de ser mulher, profissional e ser a melhor mãe que podia (e ainda é) ser.
Hoje, como mulher, mãe, profissional, eu entendo a? pic.twitter.com/Q2VqfSBwpZ
Denise Coutinho, Diretora de Marketing e Comunicação da Natura, lembrou o público de como o mundo aprende rápido e muda com a diversidade e como as redes sociais dão voz e pluralidade. Enquanto Livia Geraldo, RH LATAM da Riot Games, fez questão de frisar a importância das empresas abraçarem a diversidade com processos seletivos afirmativos para abrir novas portas às mulheres. E não só oferecer vagas, mas repensar a forma de trabalho, possibilitando flexibilidade para elas poderem administrar seus diversos papéis sociais como colaboradoras, mães, donas de casa e o que mais for preciso. Sempre garantindo segurança em suas carreiras.
Mas nem tudo são flores e Jelly também contou que já passou por muito ódio gratuito da comunidade e incentiva outras mulheres a não se deixarem abalar. Sua fórmula secreta é silenciar a pessoa no jogo e seguir com sua vida. O problema é que nem sempre é fácil assim e tanto Andreza Delgado, co-criadora da PerifaCon, quanto Érika Caramello, professora da Faculdade Cásper Líbero e CEO da Dyxel, dividiram situações que já passaram.
Por ser uma jovem empreendedora, Andreza não foi levada a sério em um determinado momento quando apareceu para reunião de negócios com executivos. Por sua vez, Érika é uma empresária reconhecida internacionalmente que já teve problemas por questões culturais com indianos e árabes, que se recusaram a falar de negócios com ela simplesmente por ser mulher.
Perfeição ou nada não é o caminho
Érika afirmou que mulheres fazem a diferença e contribuem para a mudança inclusive ao publicarem jogos globalmente, trazendo menos sexismo nos personagens, apresentando histórias ricas e diversidade. O que complementa bem a fala de Mariana Uchôa, cofundadora e COO da Diversigames, sobre como mais de 50% dos desenvolvedores produzindo novos jogos no projeto de sua empresa são na verdade mulheres, que querem deixar sua marca e se sentirem incluídas nos jogos. Então por que não fazer seu próprio game?
Um dado curioso que não pode passar batido neste evento é a confiança masculina. Mesmo em vagas afirmativas para mulheres eles não deixam de se inscrever. Em contrapartida, Livia destacou como muitas vezes as mulheres deixam de aplicar para vagas por acharem que não preenchem todos os requisitos e colocarem na cabeça que é perfeição ou nada. O que impede muitas mulheres de arriscarem e terem sucesso em diversas áreas.
Vai mesmo com medo
E Anahy Couto, psicóloga esportiva do time de futebol do Corinthians e das organizações de esports MIBR e Liberty, deu um choque de realidade:
"Faça! Escolha a dificuldade e vai! O mais amargo é ver que não tentou."
Anahy também explicou como todos nós construímos nosso caminho diariamente e não escolher também é uma escolha. Mas que não é legal se paralisar pelo medo e que, principalmente as mulheres, precisam parar de buscar a perfeição. O que é irreal. É muito mais saudável buscar a evolução.
"Não cobre o que você não pode entregar [a perfeição], mas dá pra fazer muita coisa muito bem feita com o que você tem hoje."
E de coragem a caster do Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL) Layze "Lahgolas" Brandão entende, pois esteve lá desde o início abrindo portas para mulheres no universo do League of Legends. Sendo que tudo começou porque ela mesma queria estudar sobre cast para se profissionalizar e não encontrava conteúdo. Quando conseguiu entrar na Riot Games e inclusive evoluir ainda mais com a troca diária com os colegas de equipe, ela fez questão de dividir seu conhecimento lançando o projeto ReveLAH Casters. Um local seguro e inclusivo de compartilhamento de conhecimentos. Lahgolas foi inclusive uma das mulheres que influenciou na criação da Ignis Cup, torneio inclusivo oficial da Riot Games.
Quero agradecer mais uma vez o convite da @wibroficial pra participar do Summit
? Lahgolas (@Lahgolas) March 26, 2024
O evento foi incrível e saio daqui inspirada pra continuar muito trabalho (e iniciar novos, pq não?)
Valeu tds vcs que acompanharam ?? pic.twitter.com/fzM0KJhRWg
E o futuro?
Para finalizar, Cynthia Rodrigues, Head Comercial LATAM da GMD, ainda lembrou uma questão importante. Muitas empresas olham para as mulheres nem sempre avaliando seu presente, mas pensando em seu possível futuro como mães e fechando portas. "Muitas mulheres precisam esconder seu desejo de serem mães para poderem ter uma chance num cenário que nem as valoriza", disse Cynthia. E a própria RH da Riot dividiu uma situação em que ela própria estava sendo entrevistada para uma vaga e foi reduzida a uma perda potencial para uma empresa quando engravidasse. Mas Cynthia vê esperança em mudanças no cenário a partir de uma boa educação de base inclusive para a próxima geração, e afirma já estar fazendo isso com seus filhos.
Ao fim do Summit, todos os presentes se reuniram em um coquetel para novas trocas e reflexões. A influenciadora Ithuriana resumiu bem o evento ao afirmar que foi "um abraço quentinho" e era nítida a alegria das mulheres presentes. Roberta Coelho, CEO da WIBR, contou para o SBT Games o que achou do evento que ajudou a criar:
"Eu achei o evento incrível. Foi melhor do que eu imaginava, de verdade. Acho que a gente falou de tanta coisa. A ideia do evento era trazer estas mulheres incríveis e inspiradoras para contarem suas histórias e falarem de seus desafios, porque afinal de contas todas temos desafios, e a gente poder começar a trazer cada vez mais e inspirar novas meninas a entrarem nesse universo. E eu acho que a inspiração foi muito maior do que eu imaginava. É um universo de muitas oportunidades. Então eu espero que a gente tenha dado o primeiro passo nesse evento, que foi pela primeira vez focado em falar sobre carreiras de mulheres e que a gente possa fazer muitas outras edições para ver cada vez mais a mulherada criando, se inspirando e participando do mundo dos games, que é pra todo mundo."
E de acordo com Roberta, uma segunda edição deve acontecer na segunda metade do ano. Em breve todas as informações serão reveladas.
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Mas enquanto isso, a primeira edição do WIBR Summit foi transmitida ao vivo e, caso você tenha perdido, pode conferir os painéis na íntegra no canal do YouTube da WIBR.