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Entrevista: Nicolle Merhy, a Cherrygumms, abre sua vida em documentário da HBO

A empresária que revolucionou o mundo dos games é uma das participantes do documentário "Mundo Invisível dos Gamers" e contou detalhes da produção

Nicolle Merhy

27/05/2024

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Se você está no meio gamer, é impossível nunca ter ouvido falar de Cherrygumms. A empresária Nicolle Merhy é uma das figuras mais proeminentes do cenário dos esports e é uma das participantes do documentário da HBO "Mundo Invisível dos Gamers", que acompanha a vida de cinco jovens gamers de sucesso.

Dirigido por Daniel Klajmic, a produção mostra não só a rotina desses atletas e influenciadores, mas adentra suas histórias em um mergulho profundo nas águas da intimidade de cada um. Família, exposição, haters... tudo isso é abordado no documentário, dando um toque humanizado à carreira de todas essas pessoas. 

Segundo Nicolle, antes de produzir, foram feitas entrevistas com vários nomes no cenário (sem revelar a plataforma HBO de antemão) até que os desenvolvedores pudessem selecionar aqueles que iriam participar e, claro, Cherrygumms estava entre eles. 

"Não fiquei com receio de me expor no documentário. Eu comecei muito cedo nesse meio, com 19 anos, e desde que comecei, sempre fui aberta. Minha vida sempre foi muito pública. Desde a vida profissional à vida pessoal. Sempre tive a opinião do público, seja eles querendo saber ou eu contando tudo. Não me senti invadida. Muito pelo contrário: abri minha casa, a casa dos meus pais. ... Abri tudo para eles. Minha vida é um livro aberto!, conta Nicolle. 

O documentário na HBO representou uma grande conquista para Nicolle, que relembra a primeira matéria feita sobre ela. Foi em 2016, quando os esports estavam começando a se popularizar no mainstream e a mídia tradicional voltava seus olhos para esse mercado em ascenção. 

"Na minha primeira grande matéria, eu tinha 19 anos. Foi maio de 2016, para a ESPN. Na época, estava começando os esports no mainstream. Quando eu vi meu rostinho ali, com a chamada 'Cherry pede para garotas não pararem de jogar', chamei minha mãe para ver. E naquele dia, eu tirei um sonho dali: e se a minha história um dia fosse para as grandes telas com um documentário? Foi um sonho, um pensamento. Eu já fiz participação em um documentário gringo na Netflix para falar sobre crianças nos games, mas participei rápido e não falei da minha vida ou minha história, mas deu uma faísca. Aí, veio a HBO e eu chorei junto com minha mãe. Todas as conquistas, por menor que sejam, a gente tem que sempre agradecer e valorizar, porque todo dia já é tanta batalha. As conquistas tem que ser sempre enaltecidas. Eu sempre tive um sonho e não imaginava que chegaria tão breve, com 8 anos de carreira", diz Nicolle. 

Além do passado, "Mundo Invisível dos Gamers" também se foca no futuro. Quais as expectativas dos jovens entrevistados? O que os aguarda? E, também importante, o que será do mercado de games daqui para frente? Nicolle acredita que cada vez mais, esse mundo dos esports será reconhecido pelas grandes marcas do mainstream

O mercado de um ano para o outro, muda muito rápido. O que tava grande, diminui, normaliza... A onda de crescimento é muito íngreme. Toda hora muda o cenário. É uma balança entre perdas e ganhos. Nisso, você fica meio desnorteado. Faço gestão de duas empresas, a GameCode e a Black Dragons, e é muita coisa para tratar no dia a dia.  Acredito que, no futuro, os games vão cada vez mais ser vistos pelas marcas e pelas empresas como um veículo e como um pilar e não só como hobby ou brincadeira de alguém que quer chegar em casa e jogar. Cada vez mais, games serão compreendidos não como nova onda, mas como nova forma de se comunicar. As pessoas vão reconhecer mais o mercado, as marcas vão reconhecer mais o mercado. Não consigo te dizer projeções, porque de uma hora para a outra tudo muda, mas resumindo, é um cenário que vai ser cada vez mais reconhecido", explica Nicolle. 

Aos 27 anos, Nicolle é CEO da Game Code, empresa que fornece, para as marcas interessadas, insights e informações sobre o mercado de jogos eletrônicos e seus jogadores, de forma a auxiliá-las a tomar decisões estratégicas em suas campanhas publicitárias. Considerando sua posição, a empresária resume a importância que o patrocínio tem para os times, com a simples e direta frase "marca é tudo". 

Marca é tudo. É essencial. Mais de 75% das rendas dos times vem de patrocinio. Então, sem as marcas, a gente não existe, de verdade. A Acer, minha primeira patrocinadora grande, está comigo há 8 anos, e eu só consegui dar passos maiores e levar mais pessoas comigo, porque eles estavam lá desde o início, acreditando. Meu primeiro patrocio foi uma marca de informática do Rio, e eu lembro de pegar onibus, metrõ, trem, choramingando com meus 19 anos para conseguir 500 reais. E esse dinheiro, para uma menina que estava começando, mudou minha vida, fez eu acreditar que era possível, que tinha um mercado. Hoje, eu diria que 65% da minha renda pessoal vem de patrocínio. 

E Nicolle não se refere apenas ao aspecto monetário, mas à visibilidade, relembrando quando, em 2021, virou embaixadora da Nike. Ainda que o contrato não fosse "gigantesco", o nome Nike lhe deu reconhecimento como marca pessoal. 

"Hoje, eu sou conhecida como a embaixadora gamer da Nike. Ano passado, eu era "garota gamer", mas é como se eu tivesse ganhado um asterisco a mais. Então, o papel da marca além do monetário, é mídia, é holofote. Sem elas, a gente não existe". 

Com um currículo extenso, além da Game Code, Nicolle também é CEO da BlackDragons, um dos times de esports mais antigos do Brasil. Em 2019, a carioca apareceu na Under 30 da Forbes, lista emitida anualmente pela revista para destacar os mais brilhantes empreendedores abaixo dos 30 anos.

É com emoção que a empresária abraça sua versão do passado, que estava prestes a conquistar o mundo. 

"Eu coloco muito amor nas coisas que eu faço, porque também tem muita dor na minha caminhada, muito hate, muita mentira de bastidores... Tem coisa ruim, mas tem coisa boa também. É que as coisas ruins pesam... Se eu pudesse falar com a menina de 19 anos, diria 'olha, não vai ser fácil não, menina'. Aquele hobby virou uma profissão e acumulou muita obrigação.  Às vezes, penso: 'eu planejei isso quando tinha 19 anos?', porque nem sequer pensei que poderia chegar onde cheguei. Eu diria 'seja mais estratégica nas suas decisões, mais estratégica nas brigas que você quer comprar', porque é um cenário masculinizado e difícil para nós mulheres. Um erro nosso vale por 10. Até mesmo entre as mulheres, é uma competição muito grande. Diria para mim mesma: 'entenda que vai ter muita dor na tua caminha, mas por conta da dor, é que tem muito mais glórias'. É por conta do meu choro hoje, que tenho o abraço de um fã amanhã. E outra coisa que eu falaria para ela, para finalizar,  é: 'você vai receber um amor de gente que você nem conhece na sua vida, mas você vai saber que está tocando o coração deles'" finaliza a gamer, com lágrimas nos olhos.

Você pode conhecer mais de Nicolle na série documental "O Mundo invisivel dos Gamers". Os episódios saem nas terças-feiras, às 19h. 

FICHA TÉCNICA DO DOCUMENTÁRIO: 

  • Produção: Beto Gauss e Francesco Civita
  • Direção: Daniel Klajmic
  • Produção Executiva: Beto Gauss, Francesco Civita, Renata Grynszpan e Marina Hasche
  • Coordenação de Produção Executiva: Marina Grasso
  • Roteiro: Camila Camargo e Laura Artigas
  • Coordenação de Pesquisa: Camila Camargo e Gabriela Matarazzo
  • Direção de Fotografia: Daniel Klajmic
  • Supervisão de Pós-Produção: Maria Luiza Tutu Mesquita
  • Coordenação de Pós-Produção: Danielle Belo e Thiago Rigolino
  • Direção de Arte e Motion Design: Vinícius Kahan, Marco Souza e Caio Antônio
  • Som Direto: Mix4ria
  • Edição de Som e Mixagem: Estúdio Plug.in
  • Trilha Original de Abertura: Diogo Poças e Leonardo Mendes
  • Montagem: Jean Battistini e Kaue Kabrera, AMC

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