Review: Assassin's Creed Shadows é o jogo que a Ubisoft precisava

Nos últimos anos, a Ubisoft enfrentou altos e baixos com sua principal franquia, Assassin's Creed. O lançamento de Mirage em 2023 tentou trazer de volta a essência clássica da série, enquanto Valhalla ampliou as mecânicas de RPG, gerando divisões na base de fãs. Ao mesmo tempo, a empresa encarou desafios com Star Wars Outlaws, que prometia muito, mas passou por dificuldades na reta final de desenvolvimento.

Diante desse cenário, Assassin's Creed Shadows emergiu como uma esperança para a Ubisoft. Um jogo há muito pedido pelos fãs, ambientado no Japão feudal, com ninjas e samurais. E agora que ele chegou, podemos afirmar: Shadows entrega tudo o que foi prometido. O jogo traz uma narrativa envolvente, personagens carismáticos e um mundo aberto visualmente espetacular, sem os problemas técnicos que assombraram a Ubisoft em lançamentos passados.

Mas será que ele realmente consegue equilibrar o melhor dos dois mundos - o Assassin's Creed tradicional e as inovações dos RPGs da saga moderna? Vamos ao review completo.

Japão Feudal: Um Cenário que Faz Jus ao Sonho dos Fãs

A ambientação de Assassin's Creed Shadows é um dos seus maiores triunfos. O jogo se passa no período Sengoku (século XVI), um dos momentos mais turbulentos da história japonesa, marcado por guerras entre clãs, traições políticas e a ascensão de Oda Nobunaga, uma das figuras mais icônicas do Japão feudal.

A Ubisoft conseguiu captar toda a riqueza desse período. As cidades são vibrantes, os vilarejos respiram autenticidade e as paisagens naturais são simplesmente deslumbrantes. Florestas de bambu, templos isolados no topo de montanhas, castelos imponentes e campos de arroz compõem um cenário belíssimo. A riqueza de detalhes faz com que cada canto do mapa pareça vivo, oferecendo uma experiência visual e imersiva inesquecível.

Além disso, o jogo incorpora elementos culturais japoneses de maneira respeitosa e autêntica. Você pode participar de rituais de chá, praticar meditação e até mesmo treinar com mestres de espada que ensinam técnicas avançadas. Esse nível de detalhamento não apenas enriquece a jogabilidade, mas também fortalece a imersão no mundo de Shadows.

Dois Protagonistas, Dois Estilos de Jogo

A principal novidade em Assassin's Creed Shadows é a presença de dois protagonistas jogáveis: Naoe, uma shinobi (ninja) da resistência Iga, e Yasuke, o lendário samurai africano que realmente existiu na história japonesa. Essa dupla traz uma abordagem inovadora para a série, permitindo que o jogador escolha entre dois estilos de jogo muito distintos.

Naoe: O Lado Ninja de Assassin's Creed

Se você gosta da jogabilidade furtiva dos jogos clássicos da franquia, Naoe é a personagem perfeita. Com habilidades ágeis, uso de cordas e ganchos, e mecânicas de parkour reminiscentes de Assassin's Creed Unity, Naoe é uma assassina silenciosa e mortal.

Seu combate é baseado em velocidade e precisão. Com kunais, shurikens, bombas de fumaça e uma katana curta, ela pode eliminar alvos sem ser detectada. Além disso, o jogo introduz mecânicas aprimoradas de infiltração, como esconder corpos e apagar lanternas para criar sombras estratégicas.

Yasuke: O Samurais que Destrói Tudo

Já Yasuke representa a força bruta. Seu estilo de luta é baseado em espadas pesadas e ataques devastadores. Ao contrário de Naoe, ele não precisa se esconder - ele pode enfrentar múltiplos inimigos de frente e sair vitorioso.

Seus golpes têm um peso real e suas batalhas são brutais, lembrando os duelos épicos de samurais dos filmes de Akira Kurosawa. Yasuke também tem habilidades que o tornam praticamente imparável, como técnicas de bloqueio perfeitas e finalizações cinematográficas.

Contudo, sua movimentação é mais lenta e pesada, tornando-o um péssimo explorador. Apesar disso, meus momentos de gameplay com Yasuke foram muito divertidos, e particularmente, jogar com ele faz muito mais o meu estilo.

Combate e Jogabilidade: O Melhor de Ambos os Mundos

O sistema de combate de Assassin's Creed Shadows consegue equilibrar ação e estratégia de maneira impressionante. Os ataques, bloqueios e contra-ataques são extremamente responsivos e fáceis de se realizar, tornando os duelos intensos e satisfatórios. As batalhas não são apenas sobre apertar botões rapidamente - o timing e a leitura do inimigo são essenciais para sobreviver.

Além disso, há uma clara influência de Ghost of Tsushima, tanto na estética quanto na maneira como os inimigos se comportam. Assassin's Creed Shadows também implementa duelos individuais, nos quais você precisa estudar os movimentos do adversário e atacar no momento certo. Eu diria que há diversas influências até de Rise of The Ronin, como a quuestão do "carinho nos gatos" e outras atividades pormenores.

Os elementos de RPG foram mantidos, mas de maneira mais equilibrada. A progressão de personagem é menos exagerada que em Valhalla, e a árvore de habilidades foi simplificada para oferecer escolhas mais impactantes. Você pode evoluir Yasuke para ser um samurai ainda mais resistente ou tornar Naoe uma sombra indetectável.

A construção de base, que retorna em Shadows, é um dos poucos aspectos simplificados do jogo. Yasuke e Naoe possuem um quartel-general que pode ser melhorado, mas sem a complexidade que vimos em Assassin's Creed Valhalla.

Mundo Vivo e Atividades Secundárias

O mundo de Shadows está repleto de atividades, mas a Ubisoft aprendeu com erros do passado. Ao contrário de Odyssey, que tinha um mapa abarrotado de ícones, aqui as missões secundárias são mais selecionadas e bem escritas.

Há diversas atividades opcionais, como:

• Treinamentos com espadachins lendários
• Infiltrações em bases inimigas
• Exploração de templos e tumbas antigas
• Mini-games de meditação e treinamento ninja

A interação com NPCs também está mais natural. Em vez de missões genéricas de "vá até ali e mate alguém", as side quests trazem histórias envolventes que ajudam a construir o mundo e seus personagens. Apesar disso, presenciei alguns pequenos bugs, e um deles foi em uma sidequest em que eu tinha que seguir um cachorro que escondia uma chave. E sim, esta missão acabou apresentando alguns problemas para mim.

Gráficos e Performance: Um Assassin's Creed sem Problemas Técnicos

Se há algo digno de destaque em Assassin's Creed Shadows, é o fato de o jogo ser extremamente polido em seu lançamento. A Ubisoft, que por anos sofreu com bugs e problemas de otimização, entrega aqui um jogo sem falhas comprometedoras, e por isso, agradecemos pelo jogo ter sido adiado.

Os gráficos são impressionantes, com iluminação dinâmica, ciclos de dia e noite e um sistema de clima que afeta a jogabilidade. A transição entre sol, chuva e neve muda a forma como os personagens se movem e até como os inimigos se comportam.

No PS5, console em que joguei, o título se comportou muito bem, tendo apenas problemas de queda de frames enquanto eu personalizava meu quartel.

Assassin's Creed Shadows é o Jogo Que a Ubisoft Precisava

Assassin's Creed Shadows é a redenção da Ubisoft. Com uma história envolvente, dois protagonistas bem construídos, um Japão feudal recriado com maestria e um gameplay fluido e balanceado, este é o melhor Assassin's Creed dos últimos anos.

O jogo não só atende às expectativas dos fãs, como também abre caminho para o futuro da franquia. Shadows é um lembrete de que a Ubisoft ainda sabe fazer títulos memoráveis quando investe tempo e esforço no desenvolvimento. O título mostra que muitas vezes, um adiamento é positivo, se for para entregar uma experiência final digna como essa.

Se você esperava um Assassin's Creed no Japão feudal que realmente fizesse jus à ambientação, sua espera acabou. Este é um título obrigatório para fãs da franquia e entusiastas de jogos de mundo aberto.

Este review foi possível graças a uma cópia digital cedida gentilmente pelo time da Ubisoft Brasil. Testamos a versão de PS5.