Review: Fatal Fury: City of the Wolves é intenso, estiloso e controverso
Nova aposta da SNK traz gameplay sólido, arte vibrante e personagens memoráveis, mas escorrega no conteúdo single-player e nas decisões editoriais

É impossível falar de Fatal Fury: City of the Wolves sem mencionar o carinho que o público brasileiro tem pela SNK. A desenvolvedora japonesa brilhou intensemente nos anos 90, marcando gerações nos fliperamas com clássicos como Metal Slug, Samurai Shodown, Art of Fighting, The King of Fighters e, claro, Fatal Fury, conhecido no Japão como Garou Densetsu. Entre tantas franquias icônicas, Fatal Fury se destacou com seu carisma, combos acessíveis e personagens inesquecíveis.
Desde o lançamento de Garou: Mark of the Wolves, em 1999, a comunidade aguardava uma sequência. Foram 26 anos de espera - com direito até a uma continuação cancelada - até que a SNK, agora sob o comando do fundo soberano da Arábia Saudita, finalmente deu vida ao aguardado City of the Wolves. O resultado é um jogo que brilha onde mais importa: gameplay e estilo. Mas também traz escolhas que dividem a comunidade e colocam em xeque o futuro criativo da franquia.

Jogabilidade: a alma do jogo está viva e vibrante
Logo nos primeiros combates, City of the Wolves mostra que seu coração bate forte. Comparado ao frenético The King of Fighters XV, o ritmo aqui é mais cadenciado e técnico, favorecendo a precisão e o posicionamento. Cada apertar de botão tem impacto real, transmitido com animações caprichadas e efeitos sonoros que fazem jus ao legado NEOGEO.

A sensação de impacto é reforçada por sistemas clássicos, como:
- Defesa Perfeita, que recompensa leitura precisa;
- Fintas, que fingem ataques para abrir espaço em combos;
- Freios, que aumentam a profundidade tática;
- S.P.G. (Selective Potential Gear), que ativa bônus ao atingir uma parte específica da barra de vida;
- E o novo Sistema REV, que adiciona uma camada de gestão de recursos e risco/recompensa logo nos primeiros segundos de luta.
Essas mecânicas garantem que cada combate seja dinâmico, estratégico e, acima de tudo, divertido. Os fãs de longa data vão se sentir em casa, enquanto novatos encontram um sistema acessível graças aos controles inteligentes, similares aos "modern controls" de Street Fighter 6.
Elenco equilibrado, com destaque para novos rostos
Com 17 personagens jogáveis no lançamento, o elenco é um mix de nostalgia e renovação. Clássicos como Rock Howard, Gato, Mai Shiranui e o brasileiro Marco Rodrigues retornam com força total. Mas é nos novatos que City of the Wolves encontra sua centelha de novidade.
Personagens como Vox Reaper e Preecha trazem propostas criativas e cativantes, provando que a SNK ainda sabe inovar. Cada lutador tem sua própria personalidade e estilo de combate, e como os combos seguem uma estrutura mais enxuta que em outros jogos de luta, aprender o básico é rápido e recompensador. Há também a adição do robozão Cristiano Ronaldo e o DJ e produtor musical bósnio-sueco, Salvatore Ganacci.
Há quem seja contra a adição desses personagens, e eles são uma clara influência da Arábia Saudita sobre a SNK (após adquirier 96% das ações da empresa) - mesmo assim, não atrapalha a diversão do jogo, e adiciona ainda mais visibilidade aos olhos curiosos de "Hey, esse é o jogo de luta que tem o CR7?".
Visual e trilha sonora de alto nível
A transição da SNK dos sprites 2D para os modelos 3D foi turbulenta, mas finalmente chegou ao ponto de maturidade. City of the Wolves é, sem dúvida, o jogo mais bonito que a empresa já produziu. A direção de arte ousa com cores vivas, sombreamentos marcantes e efeitos que saltam da tela.

Modelos de personagens são detalhados e estilizados, e os redesigns de figuras como Billy Kane e Mai Shiranui são exemplos claros de como modernizar sem perder essência. A estética lembra ilustrações de quadrinhos urbanos, o que combina perfeitamente com a atmosfera de South Town.
E, como de costume, a trilha sonora segue poderosa, misturando rock, jazz e batidas eletrônicas. É um pacote audiovisual que honra o legado da SNK com brilho.
Conteúdo single-player: promissor, mas sem profundidade
Um dos pontos que mais decepcionam é o modo Episodes of South Town, que tenta apresentar uma campanha com elementos de RPG, mas falha em oferecer profundidade ou engajamento. A navegação é feita por mapas estáticos e as interações se limitam a textos expositivos que pouco acrescentam à experiência.

Mesmo com a possibilidade de equipar melhorias para os personagens, a falta de desafio torna esse sistema dispensável. A sensação é de que o modo foi concebido com ambição, mas executado às pressas, com uma interface truncada e ausência de mini-games ou eventos realmente criativos. O destaque fica por conta de um breve desafio de quebrar garrafas, divertido, mas claramente subaproveitado.
O modo Arcade é mais consistente, com narrativas que simulam quadrinhos e oferecem finais diferentes para cada personagem, incentivando a rejogabilidade. No entanto, a ausência de cenas animadas ou vozes em certos momentos quebra o clima e empobrece a imersão.
Afinal, vale a pena?
Fatal Fury: City of the Wolves é a SNK mostrando que ainda sabe como fazer um jogo de luta marcante. A jogabilidade é excelente, os visuais são impressionantes e a trilha sonora pulsa no ritmo certo. Para quem busca combates intensos e técnicos, é uma experiência empolgante e recompensadora.
Mas há tropeços claros: o conteúdo para um jogador é raso, a interface poderia ser mais amigável e a inclusão de figuras públicas reais levanta questões sobre foco e prioridade dentro do projeto.
A metáfora dos lobos continua válida: eles estão de volta e famintos. Foram servidos com estilo, mas a refeição principal ainda deixa a desejar.
Este review de Fatal Fury: City of the Wolves foi realizado com uma cópia cedida pela assessoria de imprensa da SNK. O jogo será lançado oficialmente no dia 24 de abril para PC (via Steam e Epic Games), PS4, PS5 e Xbox Series X|S. Quem adquirir na pré-venda poderá jogar com acesso antecipado a partir do dia 21 de abril.