Onimusha 2: Samurai's Destiny Remaster é um clássico que ressurge com estilo e respeito
Com melhorias visuais e modos inéditos, a Capcom entrega uma remasterização digna, sem perder a essência do que tornava o jogo especial no PS2

Quando Onimusha: Warlords foi lançado em 2001, a Capcom uniu duas forças que dominava como poucas: a ação frenética e a ambientação sombria que marcou sua era de ouro nos survival horrors. Pouco tempo depois, em 2002, Onimusha 2: Samurai's Destiny chegou ao PlayStation 2 não apenas como uma sequência, mas como uma evolução de ideias, maior, mais ambicioso e com um escopo narrativo ampliado. Agora, em 2025, o título retorna em uma versão remasterizada que respeita o passado, mas se adapta suavemente ao presente.
Com cerca de 15 horas de jogatina, é possível zerar (mais de uma vez) e explorar bem os recursos da nova edição, e o sentimento que fica é de que Samurai's Destiny não só envelheceu bem, como se tornou ainda mais relevante em tempos de jogos saturados por open worlds e câmeras livres. Seu charme retrô, aliado a escolhas criativas e um combate ainda divertido (e menos bugado do que era antigamente), reforça como o jogo continua sendo um marco da era PlayStation 2, agora com camadas extras de acessibilidade e performance.

Uma continuação com novos ares, sem perder a alma
Diferente de muitas sequências da época que optavam por repetir a fórmula de sucesso, Onimusha 2 foi ousado ao apresentar um novo protagonista. Sai Samanosuke Akechi, entra Jubei Yagyu, um espadachim com histórico baseado em um personagem real da história japonesa, mas reinterpretado aqui como um herói com carisma próprio.
O enredo continua girando em torno da luta entre humanos e os demônios Genma, figuras inspiradas na mitologia japonesa e renderizadas com um misto de horror e fantasia. Jubei descobre que possui o poder de absorver almas dos inimigos derrotados, habilidade que se tornará essencial tanto na evolução de suas armas quanto na progressão da história. A premissa pode parecer simples, mas ela esconde múltiplas camadas narrativas e uma construção de mundo detalhada, com vilarejos, templos, florestas e fortalezas densamente decoradas com ambientações de tirar o fôlego.
Apesar de evitar spoilers neste review, vale dizer que o jogo não se apoia apenas em ação. Há momentos contemplativos, pequenas missões secundárias e decisões que afetam o rumo da jornada, que aprofundam o universo e trazem variedade ao gameplay.
Sistema de afinidade e narrativa ramificada
Uma das maiores novidades na época, e que permanece interessante, é o sistema de afinidade com os personagens secundários. Durante o jogo, você encontra figuras que podem se tornar seus aliados, dependendo das decisões tomadas ao longo da história. Presentes, falas e ações influenciam diretamente esse relacionamento, alterando inclusive quem te ajudará em combates ou participará de sequências específicas.
Essa dinâmica traz uma profundidade raramente vista em jogos de ação da época, quase flertando com elementos de RPG e visual novel. Na prática, isso se traduz em múltiplos caminhos e pequenas reviravoltas que tornam cada gameplay único, incentivando a rejogabilidade.

Combate direto e tático, com alma (literalmente)
O combate de Onimusha 2 mantém o DNA clássico da franquia: espadas, magia e a necessidade de gerenciar recursos em tempo real. Há três armas principais elementais (fogo, trovão e gelo), cada uma com seu estilo de ataque, e que evoluem conforme você coleta almas dos inimigos. As lutas contra chefes exigem timing e domínio do ambiente, ainda mais nos modos de dificuldade mais altos.
Um dos elementos mais marcantes é o sistema de absorção de almas. Ao derrotar inimigos, o jogador pode puxar almas que servem para restaurar vida, magia ou aprimorar armas. As esferas coloridas flutuando até Jubei são uma assinatura da série e ainda causam impacto.
Apesar da movimentação usar os chamados "tank controls", os comandos foram levemente ajustados para responder com mais agilidade, tornando a jogabilidade mais confortável, especialmente para quem joga com controles modernos. A combinação entre câmeras fixas e combates tensos mantém o clima claustrofóbico, um contraponto bem-vindo à estética dos títulos contemporâneos.
Câmeras fixas, cenários pré-renderizados e o charme do retrô bem cuidado
Os cenários continuam belíssimos, com planos de fundo pré-renderizados retrabalhados em alta definição. Há cuidado em preservar os detalhes originais, como pequenas folhas se movendo ao vento, velas tremeluzindo em templos e reflexos de luzes em poças d'água. O trabalho da remasterização é sutil, mas eficaz: limpa os ruídos visuais, melhora a resolução dos modelos e moderniza a paleta de cores sem descaracterizar a estética.

As câmeras fixas, que mudam de ângulo conforme você avança, funcionam como uma ferramenta cinematográfica, revelando surpresas, ampliando a tensão e valorizando a composição visual. Em uma geração dominada por liberdade de movimento, retornar a esse estilo é uma experiência curiosamente refrescante.
Exploração não-linear e incentivo à reexploração
Diferente do primeiro jogo, que tinha um caminho mais linear, Samurai's Destiny abre espaço para exploração mais dinâmica. Embora não se trate de um mundo aberto, há áreas que se interconectam, atalhos e mecânicas que remetem a um "mini metroidvania", onde você retorna a locais antigos com novas habilidades ou chaves que destravam novos segredos.
Esse elemento aumenta a longevidade da campanha e dá um gosto extra para quem gosta de vasculhar tudo. Baús trancados, passagens escondidas e NPCs que só aparecem sob certas condições fazem parte dessa proposta, que mantém o ritmo envolvente mesmo após várias horas de jogo.
Inclusive, a rejogabilidade é um tópico a se destacar, já que alguns troféus/conquistas são relacionados a isso.
Novos modos e acessibilidade aprimorada
Para quem quer um desafio ou apenas vivenciar a narrativa, o remaster traz todos os modos de dificuldade desbloqueados desde o início. Além dos já conhecidos Normal e Easy, há o temido Modo Hell, voltado para quem busca combates impiedosos, e que testa até mesmo os veteranos da série.
Essas opções tornam o jogo mais acessível a diferentes perfis de jogadores, dos nostálgicos que querem apenas reviver a história aos speedrunners que desejam superar o tempo dos créditos finais. A presença de legendas em português também contribui para a imersão, principalmente para o público brasileiro que acompanhou o jogo original ainda sem localizar os textos.

Duração e valor nostálgico
Na média, a campanha de Onimusha 2: Samurai's Destiny leva entre 7 a 10 horas para ser finalizada, dependendo do ritmo de exploração e do nível de dificuldade. Nas minhas 15 horas de gameplay, pude testar diferentes abordagens, rejogar trechos com novos aliados e buscar segredos que haviam passado batido na primeira metade da jornada.
Essa duração é perfeita para o tipo de proposta do jogo: uma aventura intensa, sem enrolação e com doses de profundidade suficientes para marcar o jogador. O valor nostálgico é inegável, mas mesmo quem nunca jogou o original encontrará aqui uma experiência sólida e bem construída.
Veredito final: uma remasterização que honra o passado sem se perder no presente
Onimusha 2: Samurai's Destiny Remaster é uma remasterização bem interessante, sendo também uma resposta moderna aos pedidos de fãs que desejavam ver a franquia ganhar nova vida. A Capcom soube equilibrar respeito à obra original com melhorias pontuais que tornam o jogo mais agradável, sem mexer naquilo que o tornava único.
Se você é fã da era PS2, esse relançamento é obrigatório (apesar do preço não ser tão acessível no Brasil). Se nunca jogou, agora é a hora perfeita para entender por que essa série marcou uma geração. Entre espadas, demônios e câmeras fixas, Onimusha segue sendo uma das franquias mais estilosas e subestimadas do catálogo da Capcom.