Elden Ring: Nightreign reinventa o soulslike com cooperação e recompensa em cada derrota
Battle royale encontra roguelike em uma experiência ousada da FromSoftware que honra o legado de Elden Ring enquanto propõe um novo jeito de sentir a dor - e a glória - de cada combate

Desde o anúncio de Elden Ring: Nightreign, a comunidade reagiu com desconfiança. A ideia de transformar o universo denso e contemplativo da FromSoftware em algo que flerta com as dinâmicas de battle royale e roguelike soava, para muitos, como heresia. Como assim "urgência" num soulslike? Cadê a prudência, o medo de cada passo, o silêncio entre a morte e a glória?
O que não esperávamos é que essa proposta, aparentemente dissonante, resultaria numa das experiências mais criativas e recompensadoras que a FromSoftware já produziu. Nightreign não apenas respeita o DNA da franquia como o ressignifica, oferecendo aos jogadores uma nova forma de amar (e temer) a brutalidade de seu mundo.

O que é Nightreign, afinal?
Elden Ring: Nightreign é um título separado do Elden Ring original, situado em uma linha do tempo paralela após o Estilhaçamento do Anel Prístino. Você é um Nightfarer, uma alma errante em uma nova versão de Limgrave, agora rebatizada de Limveld, que precisa sobreviver a três noites de provações até encarar o Senhor da Noite. A cada partida (Expedition), você começa do zero, evolui rapidamente e morre com ainda mais facilidade.
O ciclo se repete, como um roguelike, mas com alma soulslike.
Cada dia dentro do jogo é dividido em duas fases: exploração e combate noturno obrigatório. Durante o dia, você coleta runas, enfrenta inimigos e caça recursos; à noite, o mapa se comprime em uma arena com um chefe implacável. Morrer não é um fim definitivo, mas uma parte da curva de aprendizado. Vencer, por outro lado, é catártico como nunca.
A dinâmica de urgência: correndo da morte, correndo para ela
Diferente da experiência contemplativa do Elden Ring original, Nightreign impõe urgência como principal motor do gameplay. O tempo está sempre contra você. A cada minuto, o círculo de segurança no mapa se contrai, empurrando você - e seu time - em direção a confrontos obrigatórios.

Esse paredão de fogo, chamado Night's Tide, não é apenas uma ameaça visual: é letal. Ele suga sua vida rapidamente e torna o resgate de aliados quase inviável, obrigando decisões rápidas e trabalho em equipe. A cada minuto perdido colhendo uma fruta ou explorando um templo em ruínas, o jogo cobra um preço.
Para balancear essa urgência, a FromSoftware implementou elementos que facilitam a movimentação e reduzem a penalidade de erros: corridas não consomem stamina fora de combate, quedas não causam dano, e um pássaro gigante pode servir de montaria aérea improvisada. É uma nova forma de jogar um soulslike: com pressa, mas ainda com medo.
As classes: Nightfarers e a escolha da sua dor
O sistema de classes de Nightreign traz um dos elementos mais sofisticados e experimentais do jogo. Os Nightfarers são avatares de diferentes arquétipos de combate e têm histórias próprias, contadas de forma fragmentada no estilo clássico da FromSoft. Cada um molda completamente sua abordagem ao combate, e conhecer suas forças (e fraquezas) é parte vital da progressão:
- Wylder: Classe equilibrada, com foco em mobilidade e adaptabilidade. Ideal para jogadores novos, oferece resistência decente e boa versatilidade.
- Guardian: Um tanque por excelência, com escudos pesados e habilidade de controle de grupos. Sacrifica velocidade por robustez.
- Duchess: Uma assassina ágil, com golpes rápidos e evasões quase dançantes. Excelente para emboscadas e PvP.
- Recluse: Usuária de magia baseada em fragmentos do Erdtree, com magias lentas mas poderosas. Exige distância e posicionamento.
- Ironeye: Arqueira de precisão cirúrgica, ideal para suporte à distância. Sua eficiência depende de timing e leitura de terreno.
- Raider: Selvagem e brutal, usa armas pesadas e se beneficia de buffs de ataque. Ótimo em grupo, péssimo sozinho.
- Executor: Técnico e exigente, seu estilo de parry e contra-ataque é altamente recompensador, mas impiedoso com erros.
- Revenant: Invocadora espiritual, com habilidades de manipulação e distração. Estratégica e sutil, exige domínio da arena.
Cada personagem tem um "peso narrativo" no mundo. Derrotar certos chefes ou realizar sidequests específicas libera fragmentos de memória, que ampliam o lore de cada Nightfarer. É como se você estivesse desenterrando a história de um protagonista em meio ao caos de uma jornada coletiva.
Um mundo conhecido com regras novas
Limveld é ao mesmo tempo familiar e inédito. A estrutura visual evoca Limgrave, mas o mapa muda a cada partida, com variações de clima, rotações de inimigos e posicionamento randômico de loot. Igrejas oferecem recarga do Frasco de Lágrimas Carmesim, mas estão espalhadas como ilhas de salvação em meio ao desespero.

O sistema de runas segue o modelo tradicional: mate, colete, evolua. Mas há diferenças: as mortes não resetam tudo, e recuperar suas runas é muito mais viável, especialmente com o apoio de aliados. Esse alívio no peso da punição torna o jogo mais acessível, mas ainda desafiante.
A trilha sonora muda dinamicamente com o tempo do dia e o avanço da maré da noite. O céu escurece, um Erdtree espectral surge no horizonte indicando o próximo chefe, e mensagens e alertas visuais aumentam a tensão. É uma experiência imersiva que se constrói sobre o legado visual e sonoro de Elden Ring com inteligência.
Spirit Shelter: um fôlego antes da tempestade
Após os dois primeiros dias, os sobreviventes chegam ao Spirit Shelter - um santuário onde o tempo para, a maré não alcança e você pode respirar. Ali, é possível:
- Comprar itens com as runas acumuladas
- Subir de nível com base nos stats individuais do personagem
- Forjar e melhorar armas com Smithing Stones
- Ajustar sua build para a batalha final contra o Nightlord
Esse momento funciona como um respiro, mas também como tensão acumulada. Você sabe que o pior está por vir. O Nightlord muda a cada run, e as pistas sobre sua identidade surgem com os inimigos que aparecem antes dele. Assim, o jogo recompensa jogadores atentos e cria uma expectativa crescente até o fim.
Uma nova forma de jogar, mas ainda FromSoftware até o osso
Mesmo com tantas mudanças, Nightreign nunca deixa de ser FromSoftware. A dificuldade, o peso de cada decisão, a importância da leitura de padrões de ataque e o domínio do espaço ainda são as chaves da vitória. O que muda é a forma como o jogo enxerga o fracasso.

Ao contrário do Elden Ring base, onde perder horas de progresso pode ser devastador, aqui o fracasso é visto como parte de um ciclo rápido, dinâmico, quase esportivo. Você morre, mas não se sente punido. Você experimenta classes e armas sem medo. Você arrisca mais - e se diverte mais.
É uma virada de chave que pode incomodar puristas, mas é uma lufada de ar fresco para a franquia.
Afinal, vale a pena jogar Elden Ring: Nightreign?
Sim. E não apenas "vale a pena", mas é essencial para qualquer fã de soulslike com mente aberta. Nightreign é mais do que um experimento: é uma resposta clara ao desafio de expandir uma franquia sem traí-la. Ele respeita o jogador, inova com coragem, e transforma a maneira como sentimos medo, tensão e recompensa no universo da FromSoftware.
Não é um substituto para Elden Ring, mas uma reinterpretação criativa que é muito válida. Acredito que o título possa atrair e trazer novos jogadores para o lado soulslike da força, ao mesmo tempo que consegue refrescar a experiência de jogadores de longa data do gênero.